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Balança comercial e o papel do Brasil no comércio internacional



Mauricio Fontana
Os dados mais recentes sobre o comércio do Brasil com o resto do mundo reacendem um dos debates mais acalorados das ciências econômicas: as vantagens comparativas versus a teoria estruturalista.
Atualmente, uma das políticas econômicas do governo federal para estimular a retomada de investimentos e indústria baseia-se, entre outros fatores, na manutenção artificial de uma taxa de câmbio considerada benéfica para o setor exportador e que, em tese, protege a indústria local da competição predatória de produtos importados. Esta política cambial está fortemente ligada à teoria estruturalista, que defende a proteção de setores industriais internos para que possam crescer, ampliar escala e tornarem-se competitivos nos mercados em que atuam. A contrapartida desta estratégia é o repasse, em maior percentual, dos aumentos de preços externos de bens chamados comercializáveis, principalmente as commodities como grãos, petróleo e minério, afinal, com o câmbio fixo, perde-se a capacidade de amortecer as mudanças nos preços.

Ainda que teoricamente seja compreensível que o real mais depreciado faça com que o que é produzido no Brasil fique mais barato para o mercado externo e, ao mesmo tempo, faz com que os importados fiquem mais caros no mercado interno, uma breve análise dos últimos 10 anos de balança comercial, cotação do dólar e crescimento do PIB mundial e de nosso maior parceiro comercial, a China, indica uma relação diferente. Enquanto entre os anos de 2002 e 2007 a cotação caiu de R$ 2,92 por dólar para até R$ 1,77 / US$, no mesmo período o saldo da balança comercial subiu de US$ 13,2 bilhões para até US$ 46,5 bilhões. Já entre 2007 e 2009, a cotação variou entre R$ 1,77/US$ e R$ 2,00/US$ e, neste período a balança comercial recuou de US$ 40 bilhões para US$ 25,3 bilhões. Por fim, entre 2009 e 2011, as cotações R$/US$ variaram entre 2,00 e 1,67, fazendo com que a balança comercial recuperasse seus números de 25,3 bilhões de dólares para 29 bilhões de dólares. Em um estudo mais aprofundado, verificando-se a correlação entre balança comercial e taxa de câmbio e entre balança comercial e PIB mundial e chinês, chega-se à uma correlação negativa no primeiro caso (-0,053), positiva no segundo (0,485) e fortemente positiva no último caso (0,762). Estes dados mostram que, ao contrário do que é defendido amplamente pela indústria nacional, a relação dólar/superávit comercial é inverso e uma depreciação do real acaba por impedir os investimentos em tecnologia, insumos e maquinário, em sua maioria, importados. Por outro lado, o crescimento da economia global é fundamental para sustentação de nosso comércio exterior e, por isso, é extremamente importante mantermos um relacionamento comercial de abertura de mercados com nossos maiores parceiros.
Este cenário de dependência da balança comercial ao mercado global pode ser explicado também pela concentração da pauta de exportações brasileiras em commodities primárias, que, segundo a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, aumentou de 37% em 2000 para 51% em 2010. Chama atenção ainda, a participação de conteúdo nacional no valor agregado das exportações. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), enquanto a média mundial é de 72,6%, no Brasil 90,7% do valor agregado é nacional. A China, possui índice de 67,9%, assim como o México, já os Estados Unidos tem 82,5% de valor agregado nacional, mas a Alemanha apenas 72%. A explicação para este fato é simples, as exportações brasileiras quase não possuem valor agregado, pois concentram-se em commodities agropecuárias e extração de minério, ambos exportados praticamente brutos.

Outro dado que prejudica as contas externas brasileiras nos últimos anos é o valor gasto com viagens ao exterior. Entre 2002 e 2012, houve um aumento de cerca de 10 vezes nos gastos de brasileiros em viagens ao exterior, no entanto, no mesmo período, o rendimento médio efetivo em dólares praticamente dobrou, de forma que a correlação entre as duas séries chega a 0,88. Desta forma, podemos concluir que os ganhos salariais dos últimos 10 anos levaram o brasileiro a consumir fora do país, acessando mercados, tecnologias e experiências às quais antes não tinha possibilidade.
Tudo isso reforça a ideia de que, a livre flutuação do câmbio, ainda que levasse-nos à uma cotação de R$ 1,80/US$, traria mais benefícios, como controle da inflação e diminuição dos custos de investimento em máquinas e matérias-primas importadas, do que prejuízos, afinal, mesmo que o câmbio seja forçado a chegar em uma cotação de R$ 2,50/US$ ou mais, ainda assim, teríamos dificuldades de competitividade no mercado internacional.

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