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Aprendendo com a crise e explorando as novas fronteiras da pecuária


Ian David Hill

A pecuária já passou por diversas dificuldades, mas essa última crise, que começou no final de 2004 e até hoje ainda afeta a atividade, tem características muito próprias e, numa análise mais ampla - e otimista - pode até proporcionar resultados benéficos para a profissionalização e a sustentabilidade do negócio nos próximos anos.

Anos atrás, tínhamos um cenário de instabilidade econômica, inflação altíssima durante muito tempo. Em 1996, veio a estabilidade da economia e, conseqüentemente, o fim da inflação. O pecuarista teve de rever sua postura, pois até então usava o gado como hedge para se proteger da inflação. Para isso, procurava ter o maior número de animais, sem se preocupar com a aplicação e uso de tecnologias (genética, nutrição e práticas de manejo) no negócio.

O produtor aprendeu com esses erros e passou a investir em tecnologias para obter mais produtividade. Com isso, verificou-se maior profissionalização da atividade, com investimentos em genética e pastagens. Para se ter uma idéia do impacto desse aprendizado, há uma década a taxa média de desfrute do rebanho (percentual do total do rebanho abatido por ano) era de 16%. Hoje, esse percentual saltou para 24%, com animais mais jovens sendo abatidos e, conseqüência direta, melhor qualidade no produto. Isso comprova que o investimento em tecnologia é sinônimo de eficiência.

A crise atual, ao contrário da de 1996, está ligada diretamente aos baixos preços. Muitos pecuaristas já deixaram a atividade e se aventuraram em novos setores, com o argumento de que pecuária não dá lucro. No entanto, é preciso avaliar qual o perfil desses produtores. Muitos investiram em fazendas de gado simplesmente pelo gosto em dizer que é fazendeiro ou pelo status de ser pecuarista.

Isso gerou crescimento não-sustentado do setor, pois muitos desses novos membros não tratavam do assunto com profissionalismo, diferentemente do que acontece, por exemplo, com os novos investidores em cana-de-açúcar, que injetam capital, mas deixam a gestão a cargo de profissionais.

Assim, com a debandada desse grupo de produtores para outros negócios, espera-se que tenhamos a partir de agora uma fase com crescimento mais sustentável da pecuária, porque ficará quem realmente entendeu que é preciso encarar a atividade com profissionalismo.

Diante da competitividade com outras culturas, como a cana-de-açúcar e a silvicultura, atividades que demandam o uso de terras férteis, estamos começando a viver uma situação já verificada nos países com sucesso na agropecuária, como Estados Unidos e Austrália.

Nessas nações, não existe pecuária em áreas de grande fertilidade ou pluviosidade. Pergunto se há gado no cinturão do milho norte-americano ou no cinturão do algodão australiano. Não! O gado está localizado em regiões de terras menos férteis ou mais áridas.

O mesmo está ocorrendo agora no Brasil. A pecuária está saindo de terras mais valorizadas do Sudeste e a tendência é abrir novas fronteiras, sempre respeitando o meio ambiente e contribuindo para o crescimento sustentável. Regiões nos estados da Bahia, Minas Gerais, Maranhão, Piauí, além do Norte do País, estão recebendo gado vindo de todo o País, principalmente de São Paulo e do Centro-Oeste. Nesses locais, encontramos mão-de-obra qualificada, menos problemas sanitários, estrutura frigorífica, portos mais profundos e infra-estrutura logística menos congestionada.

Resultado: todo esse movimento permite prever dias melhores para a pecuária nos próximos anos. Por isso, quem é pára-quedista terá de aterrisar e quem ficar verá que a pecuária é, sim, uma atividade lucrativa e interessante quando tratada de maneira profissional.

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