Em escala global, o mercado de alimentos funcionais atingiu US$350 bilhões em 2023, indicando um incremento anual médio de 11% durante os últimos dez anos. O mercado cresce em função da imagem setorial positiva, em especial no que tange aos benefícios à saúde conferidos pelas substâncias presentes nos alimentos funcionais.
Nos EUA, as vendas atingiram US$65 bilhões, projetando-se uma duplicação do valor até 2030. Os alimentos funcionais lácteos, que ocupam a maior proporção do mercado europeu, atingiram €20 bilhões em 2023. Os EUA e a UE estão superando o tamanho do mercado japonês (US$6 bilhões), considerado o pioneiro e de maior tradição.
Tendências
O mercado abrange diversas camadas sociais, porém o maior contingente é composto de cidadãos bem informados, preocupados com a qualidade de vida. A decisão de compra também passa pelo crivo do preço, porém este não é o principal drive do mercado: a consciência do benefício é mais importante que o custo.
Os analistas preveem altas taxas de crescimento do mercado nos anos vindouros, em torno de 8,5% a.a. (bit.ly/4dXPTFE), consolidando os atuais e angariando novos consumidores. Em grande parte, o mercado será alavancado pelos resultados das pesquisas científicas, que têm demonstrando uma associação estreita entre os alimentos funcionais e saúde. Dos laboratórios também saem novos processos e tecnologias, bem como novos produtos, que auxiliam na ampliação do mercado.
O consumidor de alimentos funcionais, pelo seu elevado nível de conscientização e informação, tem a preocupação de que esses alimentos sejam obtidos com as melhores práticas agrícolas. Ele valoriza produtos de qualidades, isentos de contaminantes (químicos ou biológicos). Além da preocupação com o que ocorre no campo, o consumidor também está atento ao processamento industrial, exigindo padrões de qualidade, garantias de baixo impacto ambiental, a salubridade e o tratamento dispensado aos colaboradores da indústria.
Principais produtos
O mercado de alimentos funcionais abrange um leque diversificado de produtos, porém os mais demandados são os denominados probióticos e prebióticos.
As bactérias que trazem benefícios para a saúde, particularmente aumentando as defesas do organismo, compõem os alimentos funcionais conhecidos como probióticos. O alimento pode conter um ou uma mistura de microrganismos úteis, normalmente comercializados na forma de produtos fermentados, tais como coalhada, iogurte e leite acidófilo ou como suplementos alimentares. Um exemplo é a bactéria Lactobacillus acidophilus, utilizada para produzir o leite acidófilo, um produto com menor consistência e com pH mais baixo que o iogurte, e que tem expandido sua participação no mercado.
De sua parte os prebióticos são constituídos de carboidratos de alto peso molecular, principalmente fibras, não digeríveis. Sua função primordial é facilitar a atividade de bactérias benéficas, presentes no trato intestinal, favorecendo a saúde do consumidor.
Outro grupo muito interessante é o dos flavonoides, que podem ser divididos em seis grupamentos (flavonas, flavanas, flavanonas, antocianinas, os flavonoides propriamente ditos e os isoflavonoides). São pigmentos presentes em grãos, frutos e folhas, não sendo produzidos em nosso organismo. Possuem atividade antioxidante, que protege o organismo contra a ação deletéria dos raios ultravioletas, a poluição ambiental e substâncias químicas nocivas, presentes nos alimentos. São relatados outros benefícios, como reduzir o risco de doenças cardíacas e de alguns tipos de câncer, atuando, também, como antinflamatórios.
As flavonas e flavanonas podem ser encontradas em frutas cítricas. As flavanas estão presentes em alguns tipos de chás, no lúpulo, nozes e água de coco. Os flavonoides e isoflavonoides são comuns em leguminosas (feijão, soja, ervilha), sendo muito conhecidos a quercetina e a rutina, a dadzeína e a genisteína.
Mais informações sobre a ação benéfica de flavonoides para a saúde podem ser obtidas em bit.ly/3ZkuPEW.
O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica.