É recorrente a crítica de estrangeiros e, até de patrícios, sobre a quantidade de pesticidas que o Brasil utiliza nos seus processos produtivos agrícolas. É verdade que o Brasil utiliza grandes quantidades desses produtos, mas é porque o país é grande e cultiva uma área, também grande: cerca de 80 milhões de hectares (Mha), somando as áreas das safras principais com as secundárias (safrinhas).
Também, o uso expressivo de agroquímicos no Brasil deve-se à sua condição de país tropical, onde os ataques de pragas e doenças são mais frequentes e intensos. Mas, quando se compara a utilização de agroquímicos por unidade de área (hectare), muitos países superam o Brasil; China, Japão e Coreia do Sul, por exemplo, países localizados em regiões de clima temperado, onde os problemas fitossanitários são menos agressivos.
É consenso entre os acadêmicos de que não é possível dispensar os agrotóxicos na produção agrícola, principalmente para as grandes culturas. Sem os agrotóxicos, o preço da comida subiria às alturas, dada a baixa produtividade obtida com o processo de produção natural. Mas, concordam que seria possível fazer uso mais racional dos mesmos realizando o manejo integrado, onde o agrotóxico seria utilizado, mas como última opção, depois de utilizar outras ferramentas de controle, como o cultural, o mecânico e o biológico.
A produção orgânica seria alternativa para o não uso de agrotóxicos, mas ela representa apenas um nicho de mercado. Seria utopia imaginar ser possível alimentar oito bilhões de humanos com estes produtos, pois são produzidos em pequena escala e, majoritariamente, por pequenos produtores, em pequenas propriedades. Embora sejam defendidas pelos ambientalistas como sendo alimentos mais saudáveis, não há indicativos seguros de que isto seja verdade.
É possível que os bons preços das commodities agrícolas das últimas temporadas tenham estimulado muitos agricultores a utilizar mais defensivos do que o racional para garantir menores perdas na produção. Inclusive, a calendarização na aplicação dos agrotóxicos é considerada uma estratégia equivocada de manejar os problemas fitossanitários das lavouras, porque enseja a pulverização desnecessária de agroquímicos, aumentando o custo de produção, o risco à saúde do trabalhador, a morte de inimigos naturais e a poluição ambiental. Esta, a causa principal das críticas dirigidas ao Brasil.
Não se pode dispensar o uso dos pesticidas, mas há muito espaço para redução e racionalização do seu uso. Sempre será necessário buscar o equilíbrio entre a sustentabilidade dos sistemas produtivos e a necessidade de produzir mais para alimentar uma população que cresce continuamente.
Os agrotóxicos constituem um mal necessário. Ruim com eles, pior sem eles.