Nos últimos quarenta anos o consumo mundial de alimentos e fibras cresceu substancialmente devido ao aumento da população e do poder de compra dos consumidores. Em 1.950 a população mundial era de 2,518 bilhões de pessoas com 732 milhões vivendo nas cidades (29%) e 1,786 milhões na zona rural (71%). Em 2.005 a estimativa é de uma população de 6,36 bilhões, com praticamente a metade morando nas cidades.Neste período, a produção mundial de alimentos, fibras e madeira foi suficiente para atender a demanda mundial de uma população crescente.
Em 1970 a produção mundial de grãos foi de 1,225 bilhões de toneladas (t), em uma área colhida de 695 milhões de hectares (ha), produtividade média de 1,493 t/ha, produção per capita de 0,306 t em uma área colhida/capita de 0,205 ha. A produção de fibras vegetais foi de 17,53 milhões de toneladas métricas colhidas em 40,87 milhões de ha, produtividade média de 430 kg/ha e produção/capita/ano de 4,75 kg. A produção mundial de madeira foi de 2.644 milhões de metros cúbicos com produção per capita de 0,716m³. Em 2004 a produção mundial de grãos alcançou 2,457 bilhões de t colhidas em 763 milhões de ha, com produção/capita de 0,386 t e área colhida/capita de 0,12 ha. A produção de fibras foi de 29,928 milhões de t métricas, produtividde de 785 kg/ha e produção per capita/ano de 4,69 kg. A produção de madeira alcançou 3.402 milhões de m³ com produção per capita de 0,534m³.
Neste período foi possível aumentar a oferta per capita de grãos sem grandes aumentos na área cultivada mas a oferta de fibras foi ligeiramente reduzida. Ocorreu queda acentuada na oferta/capita de madeira, a principal fonte de energia nos países subdesenvolvidos. O aumento na oferta ocorreu graças as inovações tecnológicas relacionadas aos chamados insumos modernos, representados por sementes melhoradas geneticamente, uso mais intensivo de irrigação, consumo de maiores quantidades de fertilizantes e produtos fitosanitários, maior mecanização do campo, maior profissionalização dos agricultores, melhores canais de comercialização, maior capacidade de armazenagem, redução das perdas em várias etapas da cadeia produção/consumo e maior apoio dos governos.
Mas a partir da segunda metade da década de oitenta, os indices mundiais de crescimento da produtividade ficaram estabilizados para vários cultivos importantes, o que sinaliza uma exaustão tecnológica com o uso dos conhecimentos considerados tradicionais. Crescimentos recentes na produtividade per capita começam a ocorrer de modo mais acentuda para algumas culturas anuais em países que utilizam modernas biotecnologias, principalmente com o uso de plantas modificadas por transgenia.
As projeções da FAO sinalizam que em 2025 a população mundial será de 7,851 milhões de pessoas, com 58% nas cidades. Nos países desenvolvidos, com população estabilizada ao redor de 1,38 bilhões, a demanda maior será por alimentos e fibras mais funcionais, com destaque para carnes, hortigrangeiros, frutas e alimentos lácteos modificados. Nos demais, a demanda será concentrada em carbohidratos e maior consumo de madeira como fonte de energia. A humanidade precisa saber como alimentar, dar moradia, vestir e ofertar fontes de agro-energia para esta população adicional de 1,398 bilhões de pessoas que em grande parte estará residindo em países pobres ou em desenvolvimento. O desafio é gigantesco: suprir as necessidades dos países ricos e a grande demanda dos outros países sem agredir e sem contaminar ainda mais o meio ambiente mundial. As grandes perguntas são: quem irá produzir, o que produzir, onde produzir, como produzir e a que custo será feita esta produção.
Nexte contexto, o Brasil que já responde por 4% do comércio mundial de produtos agropecuários, pode atender uma parcela importante desta demanda futura à preços competitivos. O país possui muitos pontos fortes representados pela existência de grandes áreas de produção, enorme fronteira agrícola ainda inexplorada, recursos humanos qualificados, boa capacidade gerencial na produção e comercialização, oferta ambiental favorável e bom nível de conhecimento tecnológico. O crescimento recente na produção agrícola é impressionante: em menos de 15 anos a produção de grãos aumentou de 57 milhões de t em 1990 para 115 milhões em 2005. Em 2004 produziu quase 20 milhões de t de carnes, 23,46 milhões de t de leite, 239 milhões de m³ de madeira, 20,6 milhões de t de citrus e 411 milhões de t de cana. Possui liderança mundial consolidade no agronegócio e é um dos principais produtores mundiais de soja, açúcar, carne de frango, citrus, café fumo e carne suína. Nos últimos 15 anos o crescimento anual das exportações agrícolas tem sido superior a 6% e existem reais possibilidades de continuar crescendo à taxas ainda maiores. A produtividae média dos principais cultivos e criações ainda pode ser aumentada com o uso de conhecimentos tradicionais. Mas, os custos estão aumentando de modo significativo e as margens de renda estão ficando achatadas. Com a utilização das inovações biotecnológicas na produção e no processamento, o país pode ser altamente competitivo em vários produtos de origem agropecuária. Além disso, existe potencial de produzir de modo sustentável e sem incorporar áreas de florestas , 270 milhões de t de grãos, mais de 900 milhões de t de cana de açúcar, 450 milhões de m³ de madeira, 75 milhões de t de leite, 22 milhões de t de carne bovina, 19,8 milhões de t de carne de aves e 5,6 milhões de t de carne de suíno e de aumentar a oferta de óleos vegetais e fibras em valores significativos.
Mas existem pelo menos dez pontos fracos que precisam ser equacionados e resolvidos sob pena do país perder competitividade de modo acentuado no agronegócio mundial: a atual capacidade de inovação tecnológica que está comprometida (legislação limitante e até proibitiva de inovações biotecnológicas, principalmente plantas transgênicas), a infra-estrutura existente precária, a pouca profissionalização nas negociações internacionais, os recursos financeiros limitados e os juros muito elevados (podem chegar na média a 20 % ao ano), a lentidão da justiça e o desrespeito a contratos e direitos de propriedade, a manutenção de políticas públicas para o agronegócio deficientes e pouco integradas, a carga tributária extremamente elevada( pode alcançar 38%), a pouca integração das cadeias produtivas, a baixa agregação de valor nos produtos da agropecuária e a radicalização dos movimentos chamados sociais de cunho ideológico no campo.
Caso estas limitações não sejam adequadamente equacionadas, o país pode perder uma excelente oportunidade de crescer a taxas mais elevadas do que os míseros 2,3% do crescimento do PIB em 2005. A perda de renda do setor agropecuário nos últimos dois anos somam mais de 30 bilhões de reais e já comprometem seriamente a capacidade de produção da proxima safra 2006/07. Caso não se encontre uma solução definitiva para o grande problema do atual endividamento do setor, pode ocorrer uma retração na produção e oferta de produtos agropecuários, com redução da atividade econômica, elevação dos níveis de desemprego, aumento do preços dos alimentos, aumento da inflação e perda de renda real e de qualidade de vida dos brasileiros.