O agronegócio brasileiro em 2008 foi pouco afetado pelo abalo financeiro americano que causou falências, recessão e desemprego nos Estados Unidos, na Comunidade Européia e em vários países da Ásia. O BACEN vendeu bilhões de dólares para conter a escalada do câmbio e o governo disponibilizou créditos adicionais e reduziu a carga tributária visando espantar a crise. Obteve sucesso parcial em 2008.
Para 2009 existem incertezas e indefinições. O nosso crescimento econômico tem ocorrido em momentos de abundância de capital externo e preços elevados das commodities, que não é o caso nesse momento. De concreto mesmo é a escassez de crédito, juros elevados, queda no volume das exportações e nos preços das commodities e redução no consumo agregado. Os investimentos que já são baixos, de cerca de17 a 18 % do PIB, serão reduzidos, pois os empresários estão receosos e os investimentos públicos, inclusive as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) são de execução muito lenta. O crédito doméstico é caro e escasso, o externo está curto e a carga tributaria é elevada. Nesse cenário o crescimento do PIB será reduzido, ao redor de 3%, e a inflação ficar entre 4,5% e 5,0%.
Em 2008 houve produção recorde de grãos (144 milhões de toneladas), bons preços, crescimento na renda e PIB agrícola de R$698 bilhões (projeções do CEPEA/CNA). Estoques mundiais abaixo da média histórica, milho usado para produção de etanol, produção agrícola mundial per capita decrescente, aumento da população e da renda nos países emergentes deram sustentação aos preços. O saldo comercial foi positivo, houve desconcentração regional e aumento do emprego em várias cidades do interior do país, com recuperação da renda em várias cadeias produtivas. Esses fatos não se repetirão em
No front externo haverá redução nas exportações, pois a União Européia e os países do NAFTA, responsáveis por 48% das nossas exportações (complexo carnes e soja, produtos florestais, açúcar e álcool) estão no meio da crise financeira mundial e a retração no consumo é esperada devido à redução na taxa de poupança, grande endividamento doméstico e taxa de desemprego elevada. Além disso, a safra mundial de grãos 2008/2009 é estimada em 2,2 bilhões de toneladas, 4,5% a mais em relação à safra passada de 2,1 bilhões de toneladas. Não se vislumbra incrementos significativos nas exportações para outras regiões.
No front interno a safra foi plantada com custos de produção substancialmente superiores aos praticados na safra 2007/2008 (fertilizantes e combustíveis), com retração tecnológica e juros médios ao redor de 18% ao ano. Se São Pedro continuar brasileiro, como foi nas duas últimas safras, a previsão oficial já é 137 milhões de toneladas (redução de 5%), equivalente a 6% da produção mundial. Com adversidades climáticas a retração pode alcançar de
Os conflitos ambientais, devido aos absurdos da legislação que restringe ou proíbe usar 74% das terras do país (estudos da Embrapa), devem continuar acirrados em 2009. Outras preocupações permanecem: invasões de propriedades rurais, mudanças nos índices de produtividade (visando aumentar o estoque de terras produtivas para desapropriação), princípios questionáveis na determinação de “terras de quilombolas” e princípios dúbios na demarcação de “terras indígenas”, muitas delas em cima de grandes jazidas minerais.
A boa notícia é a ampliação do seguro de produção, com a constituição do Fundo de Catástrofe e aumento nos subsídios dos prêmios (sem seguro de renda agrícola, pois não existe vontade política nem recursos para realizá-lo). O mercado de bioenergia deve continuar crescendo e não deve haver problemas de abastecimento de alimentos e fibras, com preços estáveis ou até declinantes (carnes) para os consumidores.
O cenário em 2009 é preocupante. A renda agrícola será menor. Os juros continuam elevados e crédito para comercialização, custeio e investimento limitado. Grande parte da produção pode ser vendida na “boca da crise”, com preços pouco remuneradores, mesmo com câmbio a 2,20/2,30. A dívida agrícola total é de R$87 bilhões (vencimento até 2.025) e R$14 bilhões vencem em 2009, juntamente com os custeios normais. Vai faltar dinheiro para pagar tudo. No MT, onde se espera retração na produção e na renda e no RS, onde já ocorrem adversidades climáticas e as possibilidades de aumentos da receita agrícola são pequenas ou nulas, as dificuldades serão maiores. Agricultura empobrecida significa redução na inovação tecnológica e na produtividade, induz ao aumento nos preços dos alimentos e fibras, diminui a competitividade, causa perda de mercados externos e aumenta a crise de liquidez. Movimentos do tipo ”tratoraços” ou “camionaços” podem acontecer em alguns estados, se medidas de proteção da renda agrícola não forem realizadas.
Os recursos orçamentários da União de R$3,00 bilhões para garantia de sustentação dos preços mínimos podem ajudar parcialmente na estabilização da renda, mas não são suficientes para resolver a crise de liquidez. Nessa situação, não existe expectativa de expansão para a safra 2009/2010. A solução deve ser uma política permanente de garantia da estabilidade da renda líquida, onde a redução dos custos de produção deve ser uma preocupação permanente dos empresários e dos governos. Vamos trabalhar para que isso possa acontecer.