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a saga do pequeno produtor rural



Amélio Dall’Agnol

 

Segundo o CEPEA/CNA, no período de 1996 a 2020, o agronegócio brasileiro contribuiu, em média, com 24,7% (18,7% a 34,8%) do total de bens e serviços gerados pelo país. Com um crescimento de 5,7% no primeiro trimestre de 2021, segundo dados do IBGE, o agronegócio foi o setor que mais cresceu nesse período de pandemia <https://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx>

 

No Brasil, segundo o censo agropecuário de 2017 do IBGE, cerca de 3,9 milhões de propriedades são classificadas como de agricultura familiar, perfazendo 77% dos estabelecimentos agropecuários, e contribuem, em valor monetário, com 23% da produção, excetuando a indústria e os serviços agregados. Estes pequenos empreendimentos rurais empregam mais de 10 milhões de pessoas, perfazendo cerca de 67% do total. https://censoagro2017.ibge.gov.br/templates/censo_agro/resultadosagro/pdf/agricultura_familiar.pdf. O segmento familiar da agricultura é notadamente importante no fornecimento de alimentos frescos sendo que, em valor da produção, é responsável por 48% do café e banana; 80% da mandioca, 69% do abacaxi e 42% do feijão. <https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/2012-agencia-de-noticias/noticias/25786-em-11-anos-agricultura-familiar-perde-9-5-dos-estabelecimentos-e-2-2-milhoes-de-postos-de-trabalho.html>

 

Um pequeno proprietário de terras não é, necessariamente, um pequeno produtor rural. Depende da atividade agrícola que exerce e o volume de recursos financeiros que gera. Por exemplo, explorar intensivamente uma área de 10 hectares com a produção de hortaliças pode gerar recursos financeiros superiores a 100 hectares utilizados para produção de grãos.

Muitos pequenos produtores rurais tiveram êxito como agricultores, principalmente quando estabelecidos próximos a centros urbanos e dedicados à produção de hortifrúti. Outros produtores não tiveram a mesma sorte e abandonaram ou seguem abandonando suas pequenas propriedades pela baixa competitividade da sua pequena escala de produção.

Por causa disso, alguns pequenos estabelecimentos rurais são vendidos ou arrendados para vizinhos mais eficientes. Outros, por sua vez, estão ficando nas mãos de idosos cansados e desgastados, incapazes de dar continuidade às tarefas da propriedade. Do total de estabelecimentos rurais, segundo o censo rural de 2017, os administrados por jovens com menos de 35 anos são menos de 11%. Muitos dos jovens membros da família que os acompanhavam estão deixando o campo e migrando para a cidade em busca de melhores oportunidades de educação, saúde e lazer, no entendimento de que, pobre por pobre, é preferível ser pobre na cidade. Uma das possíveis causas do fenômeno é a falta de assistência técnica, já que apenas 20% dos agricultores familiares recebem algum tipo de apoio tecnológico. Dos que permanecem na propriedade, a maioria tem renda maior com atividades não agropecuárias.

A fusão de pequenas propriedades agrícolas em glebas maiores para ganhar produção de escala, não se constitui num fenômeno apenas brasileiro, é um fenômeno global. Já aconteceu e continua acontecendo na maioria dos países do mundo, principalmente nos mais desenvolvidos, dando a agricultores mais bem-sucedidos a oportunidade de incorporar essas glebas pequenas em glebas maiores e concentrando, consequentemente, cada vez mais as lavouras na mão de menos agricultores.

Ex-produtores rurais que abandonam suas terras por falta de viabilidade econômica no campo, vão para as cidades. Os mais vulneráveis ao êxodo podem estar entre os analfabetos, que em 2017, totalizavam 24%. Na cidade, eles constituem mão de obra desqualificada para as tarefas urbanas e, portanto, mal remunerada. Sem promoção social, eles podem constituir uma despesa adicional para as administrações públicas municipais, porque demandam apoio para sobreviver.

 Por terem tido apoio e, também, por habilidades pessoais, médios e até grandes produtores começaram pequenos. Dada sua visão empresarial, eficiência produtiva e uso de mais e melhores tecnologias e maquinário, cresceram e venceram as limitações impostas pela pouca terra e hoje usufruem das benesses do sucesso, em benefício de toda a sociedade.

NOTA: Este texto contou com a colaboração de Arnold Barbosa Oliveira

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