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A oportunidade perdida


Decio Luiz Gazzoni
Acho que viverei o dia em que a História registrará que a Agroenergia poderia ter sido o grande negócio do Brasil, e nunca o foi. Esta foi uma das afirmações que fiz nesta quinta-feira, na Fenasucro, em Sertãozinho, para uma plateia de técnicos e empresários do setor de Agroenergia. Fi-lo com o coração partido, fui dos que acreditei no seu enorme potencial não realizado.

Na década de 1990, quando cientistas estabeleceram a relação direta entre a queima de combustíveis fósseis, as emissões de gases de efeito estufa e as mudanças climáticas, o mundo passou a buscar alternativas energéticas sustentáveis, não poluentes. Os olhos do planeta se voltaram para o Brasil, onde o Proálcool havia demonstrado a possibilidade concreta de extrair dezenas, centenas de bilhões de litros de biocombustíveis dos campos, substituindo a poluente energia fóssil. Nosso potencial era de não apenas abastecer o Brasil, mas nos impormos como o maior fornecedor em escala mundial.
Tudo correu bem até 2009, com o setor sucroalcooleiro crescendo incríveis 13% ao ano, quando 55% do combustível usado em veículos leves, no Brasil, era bioetanol – quase 28 bilhões de litros. Naquele ano, realizei um estudo prospectivo cuja conclusão foi que, em 2015, ultrapassaríamos o uso de 50 bilhões de litros de etanol por ano, 80% do consumo de veículos leves.

Os erros de política governamental, a partir de 2010, tiveram dois grandes efeitos: nocautearam a Petrobras, outrora a 6ª. maior petrolífera do mundo, e destruíram o sonho de abastecer o Brasil e o mundo com bioetanol. Em 2015, consumiremos menos bioetanol no Brasil que em 2009. Nos últimos 5 anos, a diferença entre o consumo projetado e o efetivo alcançou quase 150 bilhões de litros. As consequências foram a não geração de R$200 bilhões em riqueza pelo campo, e seus empregos associados; o consumo de 95,3 bilhões de litros de gasolina importados ao custo de dezenas de bilhões de dólares; e a emissão de dezenas de milhões de toneladas de gás carbônico que emporcalharam a atmosfera.
A confiança dos investidores e importadores esvaiu-se e a janela de oportunidades se fechará em breve. Jogamos no lixo uma oportunidade ímpar de progresso e desenvolvimento sustentável para o Brasil e o mundo.
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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