Vitamina E e a carne de qualidade
Vieira, Guilherme A.[1]
Moraes, Júlia V.S. de[2]
I. Introdução
O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, com 234,4 milhões de cabeças de gado (IBGE, 2023). De acordo com a ABIEC[3], no ano de 2023 foram abatidos 42,31 milhões de cabeças, totalizando a produção de 10,1 milhões de toneladas de carne (TEC).
O mesmo relatório aponta que a carne brasileira está presente em 174 países. Entretanto, para acessar mercados mais seletivos, o produtor brasileiro tem que produzir carcaças com alto padrão de qualidade e alcançar os padrões do mercado da Cota Hilton[4].
Ao atender os atributos de qualidade da carne, os consumidores, a nível do mercado doméstico e internacional, atentam para as características de maciez, cor, sabor e odor no momento da compra. Entretanto, a aparência (coloração) da carne, é a primeira característica que apresenta a maior influência sobre a decisão de compra
A suplementação da dieta dos animais em pastejo, com concentrado, aumentam o desempenho dos animais, reduz a idade de abate e melhora a qualidade da carcaça e carne obtida, além dos benefícios na preparação dos animais terminados em semiconfinamento e no confinamento.
Os suplementos injetáveis com estimuladores orgânicos, contém vitaminas, minerais e aminoácidos, bem como aumentam o metabolismo, auxiliam no crescimento e na engorda precoce, além de suprir animais carentes de vitaminas A, D, E, complexo B e aminoácidos essenciais.
A vitamina E (VE), é um nutriente essencial para o desenvolvimento de todas as espécies animais, incluindo os bovinos. O principal papel da vitamina E, é atuar como um antioxidante biológico, atua na defesa de células e tecidos, na saúde do úbere e CCS.
A suplementação com vitamina E, além das suas atividades nutricionais, previne alteração (oxidação) dos lipídeos, melhora as qualidades organolépticas da carne (coloração, sabor) e conservação dos alimentos (rancificação, qualidade do leite).
Dito isto, o presente artigo tem como objetivo relatar as atividades biológicas da vitamina E na produção de carne sobretudo na qualidade da carne.
II. A vitamina E, funções e deficiências nutricionais
A vitamina E, é uma vitamina lipossolúvel, pertencente ao grupo dos tocoferóis (alfa, beta e sigma tocoferol), dos quais, o alfa-tocoferol é o mais ativo e corresponde a 90% dos tocoferóis encontrados nos alimentos.
As principais fontes de vitamina E são óleo de germe de trigo, vegetais verdes e crus, gordura animal, pastagens verdes e fenos. Entretanto, durante o armazenamento e conservação dos alimentos, o teor de tocoferol diminui, como é o caso dos fenos e silagens.
A vitamina E pode ser administrada pelas vias oral (em pó adicionada as rações) e parenteral (injetável), na composição em suplementos múltiplos orgânicos.
As suas funções fisiológicas são: proteção da membrana dos eritrócitos, prevenção da degeneração muscular e necrose hepática, promoção da síntese de hormônios gonadotróficos e adrenocorticotróficos.
Quanto a sua relação com a imunidade, a vitamina E apresenta uma atividade imunomoduladora nos ruminantes e, funções imunológicas como a fagocitose, quimiotaxia e metabolismo oxidativo. Em altas doses, possui uma atividade anti-infecciosa.
A suplementação com vitamina E visa aumentar a concentração dessa vitamina no músculo para melhorar a estabilidade da cor da carne e impedir a oxidação dos lipídeos e, consequentemente, aumentar o prazo de validade das carnes frescas. A sua deficiência nutricional leva à morte e reabsorção embrionária, degeneração de retina, hemólise de eritrócitos, bem como afeta a biossíntese de prostaglandina.
III. A influência da vitamina E na da qualidade da carne
Vários estudos relataram os resultados da suplementação da vitamina E sobre a melhoria da qualidade da carne e aumento do prazo de validade.
Um grupo de pesquisadores analisaram o efeito da suplementação da vitamina E sobre a qualidade da carne, desempenho e capacidade antioxidante de carne de touros em terminação. Dois grupos de animais foram analisados. Um grupo com dieta suplementada com VE e outro grupo não suplementado com VE. Ao analisar os resultados, os autores verificaram um aumento significativo do ganho médio diário (GMD) dos animais tratados com VE, sendo que a carne dos animais abatidos em comparação ao grupo controle, apresentou uma diminuição significativa da perda de água por gotejamento, maior maciez e vermelhidão, sugerindo uma melhor qualidade da carne dos animais tratados.
Velazco (2021)[5] analisou um lote de 12 animais mestiços confinados, suplementados com dietas em VE (2.200 UI) por cabeça, durante 100 dias em comparação com o grupo controle (sem suplementação com VE). Ao final, o autor analisou as carnes (lombo) do lote dos animais tratados, em que a carne foi maturada úmida ou seca por 42 dias. O autor observou também que as carnes envelhecidas a úmido e a seco do grupo controle, descoloriram mais rápido em relação ao grupo tratado com VE, que apresentou vermelhidão maior por períodos mais longos (seco e a úmido). A pesquisa indica que a alimentação com altas doses de VE, reduz a oxidação lipídica e melhora o sabor e a aparência da carne.
Ao concluir o artigo, evidenciou-se a importância da suplementação da vitamina E para a melhoria da qualidade da carne no que concerne a cor, sabor, odor e maciez, oferecendo um produto que atende às exigências tanto do mercado interno quanto externo.
- Referências bibliográficas encontram-se a disposição com os autores;
- Os estudos foram realizados em parceria com a Noxon Saúde Animal (Anabolic).
[1] Médico Veterinário, Professor Universitário, Doutor em História das Ciências. Coordenador das plataformas Farmácia na Fazenda e www.semiconfinamento.com.br, Autor do livro Como montar uma farmácia na fazenda e dos manuais semiconfinamento e confinamento. Contato com autor: [email protected]
[2] Acadêmica de Zootecnia – EMVZ da Universidade Federal da Bahia
[3] ABIEC, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, disponível in: https://www.abiec.com.br/publicações
[4] Cota Hilton. Padrões e critérios de qualidade estabelecidos pelos países da União Europeia para aquisição cortes de carne bovina fresca ou resfriada, sem osso e de alto padrão, oriundos de animais inteiros de 13 a 24 meses com apenas dentes de leite, ou animais castrados ou fêmeas de 25 a 36 meses de idade. O Mercado paga preços diferenciados para os produtores e frigoríficos que atingirem este padrão.
[5] VELAZCO, D. M. 2021.Enhancement of Dry-Aged Beef Quality by Dietary Supplementation of Vitamin E. [Masters Thesis]. University of Nebraska-Lincoln.