Se tem algo com o qual o cidadão brasileiro pode orgulhar-se, é com o gigantismo do seu agronegócio; particularmente com a produção de grãos e de carnes (bovina, suína e de frango). Isto, no entanto, não significa que podemos nos deitar em berço esplêndido e deixar a roda girar. Mudanças geopolíticas e inovações tecnológicas poderão mudar rapidamente o protagonismo do Brasil na produção agropecuária. A China sabe disso.
Todos deveríamos estar cientes de que o sucesso do agro brasileiro tem correlação direta com o rápido crescimento da economia chinesa, ao longo das últimas quatro décadas. A soja é nosso principal produto de exportação para o país asiático. Para exemplificar, em 1980 a China importava apenas 16,4% da soja que consumia. Hoje importa mais de 80%, segundo a FAO. Para alimentar mais de 1,4 bilhão de cidadãos, a China precisa importar ou produzir mais. Para produzir mais, depende do aumento da produtividade, visto que o país possui apenas 6,5% das terras aráveis do planeta e essa área já está praticamente ocupada com o cultivo de trigo, arroz e milho, entre outros cultivos de menor importância.
O governo chinês deixou claro no seu plano quinquenal lançado em 2021 que buscará a independência alimentar do seu povo, pois não admite que outro país controle sua capacidade de alimentação, para o que, além de produzir mais via fortes investimentos em ciência e tecnologia agrícola, pretende diversificar as fontes de importação. O Brasil tem aumentado fortemente a área e a produtividade da soja nos últimos anos, principalmente por causa da crescente demanda chinesa, responsável pela importação de mais de 70% das quase 100 milhões de toneladas (Mt) exportadas pelo Brasil.
Mas a China não é um mercado cativo do Brasil. Outros países, além dos três grandes (EUA, Brasil e Argentina), estão investindo na produção da oleaginosa (Canadá, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Ucrânia, Rússia, etc.) com intenções de também vender para a China, que produz muita carne, sem ser um grande produtor de soja, a principal matéria prima utilizada na produção de proteína animal.
O governo chinês sabe que não pode continuar incrementando a importação de soja (atualmente em mais de 100 Mt anuais) para produzir carnes e já entendeu que o país precisa obter proteínas a partir de plantas, sinalizando para um esforço tecnológico para produzir carne vegetal. Normalmente, quando a China quer, ela consegue. Segundo o Good Food Institute, a demanda por proteína vegetal será crescente até 2030, para quando se prevê a produção de 30 Mt de carne vegetal.
E qual o futuro da pecuária brasileira, na eventualidade desse negócio prosperar e a sociedade dar preferência ao consumo de carne vegetal, considerada social, econômica e ambientalmente mais saudável! Os vegetarianos e veganos já descartam o consumo de proteína animal, dada a cruel necessidade de sacrificar os animais para obtê-la. Certamente para a nossa geração não deverá ser um problema, já que a substituição total não aconteceria de imediato ou levaria muitas gerações.
O Brasil está entre os maiores produtores e exportadores de carne bovina e de frango e entre os cinco primeiros na produção de carne suína. Mas esta zona de conforto poderá alterar-se se o mercado começar a oferecer carne vegetal mais barata e com o mesmo aspecto e sabor da carne animal.
Carne feita de plantas, uma realidade em construção. Esteja preparado. As inovações tecnológicas podem quase tudo.