CI

Colonização e Desmatamento em Rondônia


Newton de Lucena Costa

Como reflexo da colonização e dos projetos desenvolvimentistas implantados, a intensa migração para o estado gerou conflitos sócio-ambientais ligados à posse da terra e aos recursos naturais. No caso dos projetos agropecuários e minerais, a região era entendida como fronteira de recursos para setores econômicos externos, cujos impactos se expressaram por transformações que configuravam sempre um modelo sem sustentabilidade ambiental e social (Suframa, 2001). O rápido crescimento de Rondônia nas duas últimas décadas teve grande impacto sobre o meio ambiente, que no geral, se apresenta frágil. Grande parte de Rondônia pode ser caracterizada como área de transição entre floresta amazônica e o cerrado. Nos últimos anos, a pressão antrópica, sobretudo devido aos projetos de colonização do INCRA, às empresas incentivadas pelo FINAM, ao crédito subsidiado e a especulação com a terra, induziu ao desmatamento de grande parte do Estado.

A intensa atividade agrícola registrada na região Amazônica pode ser avaliada pelos níveis de desmatamentos. Em termos globais, a Amazônia apresentou uma redução nos níveis de desmatamentos da floresta densa e de capoeiras, com 2,4 milhões de hectares em 1989; 1,4 milhão de hectares em 1990 e 1,3 milhão de hectares em 1992. No entanto, a partir do biênio 1992/94 o nível de desmatamento voltou a subir atingindo 1,5 milhão de hectares. O desmatamento propicia condições favoráveis para as atividades econômicas, as quais nem sempre são sustentáveis. As conseqüências mais marcantes podem ser assim resumidas: ocupação espacial desordenada sem dotação de infra-estrutura; o desmatamento acelerado de quase 25% da floresta primária; a existência de três milhões de hectares de solos em processo de alteração; pastagens ociosas e capoeiras improdutivas; perda de biodiversidade; descaracterização das áreas protegidas; a apropriação das terras de populações tradicionais com conseqüentes desintegrações culturais, além do agravamento dos problemas sociais urbanos e baixa produtividade das explorações. A demanda da indústria madereira, por exemplo, pode estar comprometendo a sobrevivência de espécies de madeiras nobres, como o mogno. Deste modo, a busca de formas sustentáveis de utilização da madeira é fundamental para o futuro de Rondônia.

Como conseqüência de três décadas de colonização e a disponibilidade de condições edafoclimáticas favoráveis, resultou um setor agropecuário bastante desenvolvido, entretanto, ainda carente de ações de políticas públicas e privadas que permitam verticalizar, prover a consolidação da cadeia produtiva de sua economia, que tem na base primária o vetor de seu desenvolvimento sustentável. No período 1997/2000, as taxas de desmatamento em Rondônia foram crescentes, sendo de 1.052; 1.627; 994 e 2.418 km2/ano, respectivamente. No entanto, é possível que áreas tidas como capoeiras velhas possam ter entrado nestas estatísticas, face a dificuldade da identificação, nas imagens de satélite, das áreas com floresta primária. Até o ano 2000, o índice de desmatamento em Rondônia foi de 24,1% de sua área territorial. Concomitantemente com o aumento dos níveis de desmatamento, no período 1980/1995, a evolução na produção agrícola de Rondônia foi muito significativa, sendo de 247,1 e 452,4%, respectivamente para as culturas anuais e perenes. A necessidade de viabilizar um novo projeto a ser financiado pelo Banco Mundial, o Planafloro (Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia), em continuidade ao Polonoroeste, originou em meados da década de 80, a instituição da primeira aproximação do Zoneamento Sócio-Econômico (ZSE) de Rondônia, que se constituiu como forte instrumento na definição de políticas públicas, questões ambientais, fundiárias e de crédito agrícola, planejamento e ordenamento territorial. Os estudos realizados na segunda aproximação do Zoneamento contemplaram zonas para consolidação e expansão das atividades econômicas, indicando também as zonas cruciais para a recuperação ambiental ou manejo especial e uso alternativo da terra, tais como o manejo florestal sustentável, o extrativismo não madereiro, sistemas agroflorestais, ecoturismo e as áreas institucionais compostas por terras indígenas e unidades de conservação de uso direto e indireto. Deste modo, a utilização conjunta do ZSE e de tecnologias agropecuárias e florestais, adaptadas às condições edafoclimáticas de Rondônia, poderão dar início a um processo de modernização e intensificação do agronegócio estadual, e, conseqüentemente, implicar na redução dos níveis de desmatamento, além de proporcionar a recuperação de uma expressiva área de solos degradados.

Newton de Lucena Costa - Embrapa Amapá

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.