Quando Angenor de Oliveira, o monumental compositor e poeta Cartola, escreveu em 1975 a antológica letra de “As Rosas Não Falam”, talvez não imaginasse que os versos “...Queixo-me às rosas / mas que bobagem, as rosas não falam / simplesmente as rosas exalam / o perfume que roubam de ti...” estivessem plenamente sintonizados com uma discussão acadêmica iniciada em 1973, com o lançamento nos EUA do livro de Peter Tompkins e Christopher Bird, “A vida secreta das plantas”. Ainda que a obra de Tompkins e Bird seja considerada um embuste científico ou uma peça de pseudociência, sua argumentação levantou questionamentos que se estendem até os nossos dias: afinal, os vegetais são seres inteligentes? A neurobiologia vegetal é necessária para explicar a sinalização entre plantas e o comportamento dessas em função do ambiente? As plantas são inteligentes ou os estudos que dão sustentação a esses achados são estúpidos?
Evidentemente que as respostas dependem do que se entende por inteligência vegetal. O que não nos serve é a antropomorfização dos vegetais, por mais tentador que isso seja. O conceito de inteligência, neste caso, tem que ser pensado de forma não ortodoxa. Ninguém ignora que as plantas não possuem sistema nervoso central e nem cérebro para processar informações nos moldes que fazem os animais (especialmente os humanos).
Em nossas memórias, há de tudo um pouco. Desde bons, hilariantes, dramáticos, até maus momentos vividos. A tal ponto de um mero sabor ou aroma desencadear toda sorte de rememorações (vide as madeleines de Proust) e nos transportar no tempo e no espaço. Os vegetais, obviamente, não têm memórias como as nossas, que são formadas a partir de codificação de informações, seguida de armazenamento no cérebro e, posteriormente, podem ser recuperadas, com toda gama de nuanças emocionais tipicamente humanas. Todavia, as plantas também podem reter eventos do passado – os fenômenos de aclimatação e vernalização de sementes, além da memória transgeracional, sem alteração no DNA, que é atribuída à epigenética, são exemplos – e, tal qual nós, humanos, recuperar a informação para ser usada no futuro.
A sinalização elétrica entre neurônios é essencial para a formação da memória, armazenamento e recuperação de informação. E nisso, pela existência de gradientes eletroquímicos entre células e a presença nos vegetais de substâncias que nos animais atuam como neurotransmissores (caso do glutamato), é que reside tanto o pleito dos que advogam a existência de uma memória vegetal, portanto de uma atuação consciente e inteligente, quanto a visão dos críticos que defendem como desnecessárias essas expressões, não passando os domínios da neurobiologia vegetal de analogias superficiais e extrapolações questionáveis.
Entre os defensores da “inteligência vegetal” destacam-se aqueles que entendem a expressão como uma propriedade biológica inerente à vida, que é emergente de interações celulares e de redes de comunicação. Outros advogam a favor da neurobiologia vegetal como uma visão integrada da sinalização entre plantas, a partir da habilidade intrínseca para processar informação recebida de estímulos bióticos e abióticos, que condicionam a melhor atuação futura (comportamento) para a planta em dado ambiente.
A experiência sensorial das plantas, ainda que guarde semelhança com certos atributos da mente humana, é diferente da nossa e dos outros animais. É a emoção, não a racionalidade como muitos supõem, que nos diferencia dos outros seres vivos, inclusive potencializando a nossa dor, que é algo que as plantas não sentem, por não terem cérebro e nem córtex pré-frontal.
A principal questão nesse debate, como bem frisou Daniel Chamoviz, no epílogo do seu livro “What a plant knows”, publicado em 2012, não é se os vegetais são inteligentes ou não, mas sim se as plantas são conscientes ou estão alertas para as flutuações que ocorrem no meio em que vivem. E a resposta é essa: sim, SÃO conscientes e ESTÃO sintonizadas com o ambiente ao seu redor, podendo, inclusive, modificar sua fisiologia com base em suas “memórias”.
Quanto aos versos do Cartola, o poeta da Estação Primeira de Mangueira estava parcialmente certo, pois queixar-se às rosas pode ser bobagem, mas não porque elas não falam e sim porque elas são surdas.
Evidentemente que as respostas dependem do que se entende por inteligência vegetal. O que não nos serve é a antropomorfização dos vegetais, por mais tentador que isso seja. O conceito de inteligência, neste caso, tem que ser pensado de forma não ortodoxa. Ninguém ignora que as plantas não possuem sistema nervoso central e nem cérebro para processar informações nos moldes que fazem os animais (especialmente os humanos).
Em nossas memórias, há de tudo um pouco. Desde bons, hilariantes, dramáticos, até maus momentos vividos. A tal ponto de um mero sabor ou aroma desencadear toda sorte de rememorações (vide as madeleines de Proust) e nos transportar no tempo e no espaço. Os vegetais, obviamente, não têm memórias como as nossas, que são formadas a partir de codificação de informações, seguida de armazenamento no cérebro e, posteriormente, podem ser recuperadas, com toda gama de nuanças emocionais tipicamente humanas. Todavia, as plantas também podem reter eventos do passado – os fenômenos de aclimatação e vernalização de sementes, além da memória transgeracional, sem alteração no DNA, que é atribuída à epigenética, são exemplos – e, tal qual nós, humanos, recuperar a informação para ser usada no futuro.
A sinalização elétrica entre neurônios é essencial para a formação da memória, armazenamento e recuperação de informação. E nisso, pela existência de gradientes eletroquímicos entre células e a presença nos vegetais de substâncias que nos animais atuam como neurotransmissores (caso do glutamato), é que reside tanto o pleito dos que advogam a existência de uma memória vegetal, portanto de uma atuação consciente e inteligente, quanto a visão dos críticos que defendem como desnecessárias essas expressões, não passando os domínios da neurobiologia vegetal de analogias superficiais e extrapolações questionáveis.
Entre os defensores da “inteligência vegetal” destacam-se aqueles que entendem a expressão como uma propriedade biológica inerente à vida, que é emergente de interações celulares e de redes de comunicação. Outros advogam a favor da neurobiologia vegetal como uma visão integrada da sinalização entre plantas, a partir da habilidade intrínseca para processar informação recebida de estímulos bióticos e abióticos, que condicionam a melhor atuação futura (comportamento) para a planta em dado ambiente.
A experiência sensorial das plantas, ainda que guarde semelhança com certos atributos da mente humana, é diferente da nossa e dos outros animais. É a emoção, não a racionalidade como muitos supõem, que nos diferencia dos outros seres vivos, inclusive potencializando a nossa dor, que é algo que as plantas não sentem, por não terem cérebro e nem córtex pré-frontal.
A principal questão nesse debate, como bem frisou Daniel Chamoviz, no epílogo do seu livro “What a plant knows”, publicado em 2012, não é se os vegetais são inteligentes ou não, mas sim se as plantas são conscientes ou estão alertas para as flutuações que ocorrem no meio em que vivem. E a resposta é essa: sim, SÃO conscientes e ESTÃO sintonizadas com o ambiente ao seu redor, podendo, inclusive, modificar sua fisiologia com base em suas “memórias”.
Quanto aos versos do Cartola, o poeta da Estação Primeira de Mangueira estava parcialmente certo, pois queixar-se às rosas pode ser bobagem, mas não porque elas não falam e sim porque elas são surdas.