CI

Cana e emissões


Decio Luiz Gazzoni
Em Ciência, a Verdade é sempre a última verdade: a verdade de hoje pode não sê-la amanhã, mesmo se proferida por um Prêmio Nobel. Pesquisadores de universidades, da Embrapa e outros institutos brasileiros demonstraram que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) da cana-de-açúcar, principalmente do óxido nitroso, são menores do que as estimadas no modelo matemático elaborado pelo Dr. Paul Crutzen. Paul foi laureado com o Nobel de Química de 1995, por seu estudo sobre a formação e decomposição do ozônio na atmosfera. É membro da Pontifícia Academia de Ciências e professor do Max-Planck-Institute for Chemistry, da Alemanha.

 
        Em um artigo de 2008, com o taxativo título “Liberação de óxido nitroso na produção de agrobiocombustíveis nega mitigação do aquecimento global pela substituição de combustíveis fósseis” (www.atmos-chem-phys.net/8/389/2008/acp-8-389-2008.pdf), o Dr Crutzen concluiu que a substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis pode não redundar em mitigação do aquecimento global, devido às emissões de óxido nitroso na produção da matéria prima. Para a cana-de-açúcar, o Dr. Crutzen estimou um fator de emissão (kg de CO2 equivalente/megajoules de energia produzida) superior a 3%, para lastrear sua conclusão.
 
        Os cientistas brasileiros investigaram, no campo, a relação entre as emissões de GEE, a adubação e o acúmulo de palhada no canavial, publicando os resultados na edição de novembro da Revista Global Change Biology (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1757-1707.2012.01199.x/pdf). Nas medições realizadas em canaviais de Jaú e Piracicaba, os cientistas encontraram fatores de emissão tão baixos quanto 0,68%. Na média final do estudo, o fator calculado foi inferior a 1%, contrastando fortemente com o valor superior a 3%, usado pelo Dr. Crutzen em seu modelo matemático. Os fatores de emissão são fundamentais para o estabelecimento de políticas públicas, como a definição de “biocombustível avançado”, restrito aos biocombustíveis de baixas emissões, conferindo-lhes melhores condições de acesso ao mercado.

 
Esse estudo sugere uma nova Verdade sobre produção de bioetanol e emissões de óxido nitroso. Quem sabe ainda rende um Premio Nobel ao Brasil?
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.