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Cafés especiais do Brasil: o desafio do consumo global


Antonio Carlos Moreira

ANTONIO CARLOS MOREIRA*

Se a dificuldade para alcançar maior presença nos mercados internacionais é uma característica intrinsecamente ligada aos produtos agropecuários manufaturados, o café não se constitui exceção. Os compradores globais do valioso grão, tanto no mercado interno quanto internacional, se mostram cada vez mais exigentes em matéria de qualidade. 

Outro desafio é que, nos últimos 10 anos, o consumo mundial total de café tem crescido a taxa de apenas 1,1% ao ano. Este comportamento está relacionado à instabilidade de sua oferta no mercado mundial e, principalmente, às mudanças observadas nos hábitos de consumo. Nos EUA, o maior consumidor mundial da bebida, entre 1980 e 2000, o consumo caiu de 2,0 para 1,7 xícaras per capita ao dia. Por outro, novos mercados vêm se destacando.

Segundo dados divulgados pela Forbes, considerando a Europa e América do Norte, a Finlândia é destaque na questão do consumo per capita, tendo um consumo de 10,35 kg do grão por pessoa. A Holanda vem em segundo, consumindo 9,58 kg, e a Suécia encontra-se em terceiro, com 9,40 kg de café sendo consumidos por cabeça. Já os países nas últimas colocações dessa lista são o Canadá, 3,06 kg, e a Romênia, 2,51 kg (in: www.graogourmet.com).

Outro fato a destacar é o de que, se há estabilização do consumo nos países desenvolvidos, observa-se o crescimento de cafés diferenciados, cafés gourmet e premium, determinado seja pela qualidade da bebida ou pelo processo de produção: aromatizados, cappuccino, descafeinados, espresso e gelados, entre outros. Diante desses dois cenários – ou seja, o desafio do lento crescimento do consumo e, de outro lado, o aumento da demanda por cafés especiais, de sabores refinados – constitui-se o desafio das cadeias produtivas, desde a fazenda até as indústrias e cafeterias. Entre suas análises principais caberiam aprofundar:

· O comportamento recente das exportações brasileiras do agronegócio frente aos desafios impostos pela globalização dos mercados e das rodadas de negociação  internacionais de comércio. Este quadro merece atenção redobrada, tendo em vista a preocupante visão de comércio internacional expressa por membros de áreas da Economia e Relações Exteriores do recente governo Jair Bolsanaro – e prontamente questionadas pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina Corrêa. De fato, o tabulueiro do xadrez dos negócios internacionais ensina que prejudicar parceiro comercial em um produto não tarda a retaliação contra os nossos.

·  O potencial para o mercado internacional do café – como um dos importantes itens da pauta de exportações brasileira –, nos principais mercados consumidores deste produto: Europa e Estados Unidos, além dos emergentes consumidores da Ásia.

· Quais estratégias competitivas a serem adotadas pelas empresas do sistema agroindustrial do café de modo a explorar o potencial dos cafés gourmet e premium, sob o conceito de mais esforço pela qualidade, menos pela quantidade. O Grupo Três Corações, por exemplo, lançou-se com êxito nessa empreitada; hoje, colhe os bons resultados da profícua joint-venture estabelecida com a companhia israelense Strauss.

*Autor do livro História do Café no Brasil e publisher do livro “Vocação da Terra”, sobre o Instituto Agronômico, IAC;  foi repórter nas revistas Manchete e Veja; é especializado em Economia pela FIA Business School, e pela FIPE, Fundação Instituto de Pesquisas, ambas associadas à USP/SP; foi professor universitário e gerente de Comunicação Corporativa; dirige a consultoria SOMA Estratégica - Comunicação Corporativa.

 

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