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Bioinsumos e bioindicadores de qualidade do solo



Amélio Dall’Agnol

A percepção de que a utilização de produtos biológicos estava restrita a um nicho específico de produtores de alimentos orgânicos e não atenderia a um grande produtor de commodities, ficou no passado. Atualmente, o Brasil é protagonista no desenvolvimento de biodefensivos para o manejo de pragas e doenças, bioestimulantes para maior e mais rápido desenvolvimento das plantas e micro-organismos que ajudam a lavoura a se desenvolver com menor necessidade de água. Hoje, os produtos de base biológica estão adaptados tanto a grandes culturas como soja, cana-de-açúcar e café, como a pequenas plantações de hortaliças. Tudo indica que a alternativa biológica terá um desenvolvimento muito importante no manejo fitossanitário e da fertilidade do solo. Com isso se terá um modelo de agricultura que combina eficiência e sustentabilidade.

A biodiversidade brasileira responde por cerca de 20% do total mundial e é uma fonte inesgotável para prospecção de novos agentes biológicos de grande utilidade para o desenvolvimento do agronegócio nacional. Precisamos preservá-la e aproveitá-la mais e melhor. A partir dessa biodiversidade nativa, podem ser desenvolvidos bioinseticidas, biofungicidas e bionematicidas, entre outros para aplicação em plantas, ou biofertilizantes, bioinoculantes e bioestimulantes para melhoria da nutrição e desenvolvimento das plantas.

Os agentes biológicos promovem o aumento da produtividade e da rentabilidade das culturas, bem como a redução de perdas. Esses benefícios são conseguidos através de mecanismos como: a promoção de crescimento, a fixação biológica de nitrogênio, a solubilização de nutrientes para assimilação pelas raízes, a ativação da resistência natural das plantas, o controle biológico de pragas e doenças, e a melhoria na absorção de água e nutrientes pelo maior desenvolvimento do sistema radicular das plantas. Com o avançar de uma estiagem, a água só é encontrada em maiores profundidades, e é mais disponível às plantas com sistema radicular mais desenvolvido, como o proporcionado pelos promotores de crescimento.

A importância dos bioprodutos na agricultura brasileira fez jus ao estabelecimento, no Brasil, do dia 23 de setembro como Dia da Bioproteção. Essa instituição foi uma iniciativa da Embrapa Soja e do CABI (Centre for Agricultural Bioscience International) que busca conscientizar e levar mais conhecimento técnico correto ao setor produtivo sobre o uso de bioinsumos e controle biológico nas lavouras.

Atualmente o Brasil responde por 5% do mercado mundial de bioprodutos e cresce o dobro da média mundial (Brasil 28% vs. 15% da média mundial). Já conta com mais de 400 produtos biológicos registrados, estando na terceira geração desse segmento com mais de 100 empresas com registros ativos de bioprodutos. Movimentou mais de R$ 1 bilhão em 2020. O País já desponta como um dos maiores produtores de bioinsumos e caminha para uma potencial liderança futura, dada a grande biodiversidade disponível em seu território. Somente em 2020, o Mapa registrou 95 novos bioprodutos; 121% superior a 2019. Além da redução de custos com a importação de produtos químicos, os bioprodutos ajudam na preservação do meio ambiente reduzindo a contaminação por agrotóxicos e pela menor liberação de gases de efeito estufa.

Dada a importância assumida pelos ativos biológicos na agricultura do Brasil, uma nova ferramenta de análise da saúde do solo, além da química e da física, foi desenvolvida e disponibilizada ao mercado pela Embrapa, em 2021: a BioAS. Esta ferramenta permite revelar aspectos relacionados ao funcionamento biológico do solo que passavam despercebidos nas análises de fertilidade, mas que podem impactar no desempenho produtivo das lavouras e na sustentabilidade dos agroecossistemas. Há muito tempo se falava no componente biológico da fertilidade, mas havia muita carência de critérios para se avaliar esse componente, especialmente os primeiros passos da dinâmica microbiológica do solo.

 “A biologia é a base da saúde de um solo”, afirma a Dra. Ieda Mendes, líder do projeto que desenvolveu o BioAS, que, também, compara a ferramenta com o exame de sangue realizado em humanos para antecipar problemas de saúde assintomáticos. “Esta tecnologia é a ferramenta que faltava para fechar o ciclo de diagnóstico de um solo”, afirma Renato Alves Filho, responsável técnico e diretor nacional do Laboratório Solos & Plantas, de Sorriso (MT).

“A escalada da melhoria de um solo começa com mudanças na atividade biológica, seguida pelo aumento da Matéria Orgânica do Solo (MOS), o que resulta, com o passar do tempo, em maior ciclagem de nutrientes, melhor estruturação do solo e maior retenção de água. Ao final, esses fatores resultam em maior produtividade, maior eficiência do sistema produtivo e, consequentemente, maior lucro para o produtor”, afirma Ieda Mendes. A bioanálise do solo complementa um ferramental analítico que já conta com as análises químicas e físicas do mesmo. Ela é um indicativo objetivo muito importante na avaliação do solo, funciona como um estímulo ao bom manejo e permite que produtores e técnicos estabeleçam mais facilmente a relação de causa e efeito entre o manejo, a produtividade e a sustentabilidade.

Solos com análises químicas semelhantes, localizados no mesmo ecossistema, e que apresentam resultados produtivos distintos, são explicados pelas diferenças na saúde biológica dos mesmos.

NOTA: Arnold Barbosa Oliveira participou da elaboração deste texto 

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