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Biocombustíveis à deriva


Amélio Dall’Agnol
Na década de 1990, nos rescaldos da II Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO92/RIO92), houve entusiástica disposição de alguns governantes de produzir biocombustíveis em larga escala, com o propósito de reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE), produto da queima de combustíveis fósseis. A reação foi uma resposta aos alertas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU) sobre a previsibilidade de ocorrência de catástrofes climáticas, a manter-se inalterado o modelo econômico vigente.
De imediato, muitos países se propuseram investir em fontes renováveis de combustíveis, principalmente etanol e biodiesel, parecendo indicar que, em futuro não muito distante, todo o petróleo seria substituído por combustíveis alternativos, mais amigáveis ao ambiente.
Isso não aconteceu! Com raras exceções (Proálcool?), a maioria das iniciativas fracassaram, estão estagnadas ou andando a passo de tartaruga. O que aconteceu? Muito provavelmente, as grandes petroleiras se movimentaram nos bastidores e na surdina moveram fios e pavios para que a mudança não acontecesse. A manipulação dos preços do petróleo, reduzindo os seus preços por um período, é suficiente para sufocar os empresários dos combustíveis alternativos, após o quê, os preços podem ser majorados novamente.
Os argumentos apresentados contra os biocombustíveis enfatizavam o absurdo que era trocar a produção de alimentos por energia, como a indicar uma enorme preocupação dos petromagnatas com os famintos do Planeta. Também, argumentou-se que a produção de biocombustíveis não gera dividendos para o ambiente e que poderiam, até, poluir mais do que a queima de combustíveis fósseis. Mentira deslavada.
Apesar dos alertas cada vez mais dramáticos do IPCC sobre os riscos ambientais causados pelo CO2 emitido pela queima de gasolina, diesel e gás, as promessas de produção de etanol e de biodiesel em escala planetária, esfriaram. Os principais responsáveis pelos GEE hoje presentes na atmosfera são os países desenvolvidos, os quais enriqueceram queimando petróleo e outros combustíveis fósseis, deixando uma camada de sujeira na atmosfera, que agora precisa ser removida ou reduzida.
O consumo de energia guarda estreita relação com o desenvolvimento econômico de uma nação. A China é prova disso. Seu espetacular crescimento econômico das três últimas décadas veio acompanhado de igual crescimento no consumo de energia e como consequência, tornou-se a líder global na emissão de GEE, superando os EUA, tradicionalmente dono do troféu.
Enquanto o Planeta se aquece com os GEE do petróleo, a preocupação com o ambiente parece mover-se contra nações em desenvolvimento, como o Brasil e o Sudeste Asiático, produtores de biodiesel a partir da soja e do dendezeiro. Na visão dos ambientalistas radicais, o produtor de soja brasileiro seria uma “ameaça” à biodiversidade amazônica e os produtores de dendê asiáticos, seriam uma ameaça à sobrevivência dos orangotangos e dos tigres de Sumatra que vivem nas florestas da região.
Essas “preocupações” dos ambientalistas são reais ou é estratégia dos ricos para inibir o desenvolvimento das nações pobres, mantendo-as eternas fornecedoras de commodities?!
“Se o Planeta fosse abandonado pelos humanos, ele voltaria rapidamente ao estado selvagem em que se encontrava há 10.000 anos, mas esse Jardim do Éden não comportaria alimentar mais do que meio bilhão de homens”. Já somos 7,5 bilhões. 
Amélio Dall’Agnol, Pesquisador Embrapa Soja

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