Altas produtividades só se conseguem quando todos os fatores que interferem na produção de uma área estiverem em condições ótimas (umidade adequada, fertilizantes necessários e na quantidade certa, agrotóxicos na dosagem correta, sementes de boa qualidade, época e densidade de semeadura adequadas para cada cultivar, solo bem manejado, entre outros). Abaixo da umidade, porque sem água não há produção, o fator mais significativo para conferir à lavoura altas produtividades é o bom manejo do solo.
Um solo bem manejado tem mais vida, é mais friável, permeável e conservado. Acumula mais matéria orgânica, a qual o torna mais poroso e aumenta a sua capacidade de reter água das chuvas, além de facilitar o aprofundamento do sistema de raízes das plantas, que junto com o maior armazenamento de água, as permite atravessar períodos de baixa precipitação pluviométrica, sem ou com menos perdas de produtividade.
A biologia é a base da saúde de um solo, afirma a pesquisadora Ieda de Carvalho Mendes, pesquisadora da Embrapa Cerrados (DF), que lidera o projeto Bioindicadores e foi responsável por desenvolver a tecnologia de Bioanálise do Solo, ou BioAS, que permite identificar aspectos relacionados ao funcionamento biológico do solo, que passavam despercebidos nas análises de fertilidade química de rotina. Para se ter ideia da imensa diversidade genética e metabólica das comunidades microbianas do solo e, consequentemente, dos variados processos em que elas atuam, um único grama de solo pode conter cerca de um bilhão de bactérias e 100 mil propágulos de fungos.
A tecnologia BioAS consiste na análise de duas enzimas que funcionam como bioindicadores da saúde do solo. Maiores atividades desses bioindicadores indicam sistemas de produção ou práticas de manejo do solo mais adequadas e sustentáveis. Valores baixos servem de alerta para o agricultor reavaliar o sistema de produção e adotar melhores práticas de manejo. Por enquanto, a tecnologia está formatada para os cultivos anuais de grãos e fibras no Cerrado. Posteriormente, ela será expandida para outras regiões e outros cultivos do País.
De acordo com a pesquisadora Ieda, os bioindicadores são mais sensíveis que os indicadores químicos e físicos para antecipar mudanças - positivas ou negativas - que estejam ocorrendo no solo em função do manejo adotado na propriedade. “A tecnologia BioAS é como um exame de sangue do solo que nos permite antecipar problemas de saúde do mesmo, que até então eram assintomáticos”, declara ela.
Com a bioanálise realizada pelo sistema BioAS consegue-se mostrar por que solos com propriedades químicas semelhantes, dentro do mesmo agroecossistema, apresentam níveis de produtividade distintos. Segundo relato de um produtor do Mato Grosso, a produtividade da sua fazenda não estava sendo explicada somente pelas análises químicas. Havia áreas com teores menores de nutrientes, mas com bons tetos produtivos. Esses solos, explica Ieda Mendes, eram quimicamente semelhantes, porém biologicamente distintos. O sistema BioAS permite detectar diferenças entre essas áreas, o que permite ampliar a visão sobre a qualidade do solo.
De posse dessas análises, a assertividade das ações de manejo do solo analisado é mais precisa e resultará em melhores resultados produtivos e econômicos. A análise ligada à biologia do solo veio para auxiliar no processo de tomada de decisão na propriedade. Ela eleva o monitoramento da qualidade do solo a um novo nível, o biológico, que está muito relacionado ao manejo, e com ele, às condições físicas do solo.
BioAS, uma nova ferramenta em apoio ao agricultor.