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Analogia das Podridões


Opinião Livre
Quem se arrisca na perigosa aventura de viajar em algumas regiões do estado deve antes fazer seu testamento para evitar os conflitos característicos das disputas patrimoniais

Se havia algo de podre no reino da Dinamarca como constatou o príncipe Hamlet na peça de Willian Shakespeare certamente existe algo em adiantado estado de putrefação no estado de Mato Grosso: suas estradas.

Embora a história escrita pelo grande dramaturgo verse mais pela disputa de poder e a precariedade das estradas mato-grossenses resulte de inversão de prioridades e falta de fiscalização, ambas são coincidentes pelas tragédias que provocam.

Hamlet finge-se de louco e morre envenenado ao fazer justiça com as próprias mãos. Os motoristas mato-grossenses beiram à loucura e desafiam a morte ao trafegarem em estradas sem o mínimo de segurança e manutenção.

Quem se arrisca na perigosa aventura de viajar em algumas regiões do estado deve antes fazer seu testamento para evitar os conflitos característicos das disputas patrimoniais. Em pesquisa divulgada ano passado a CNT (Confederação Nacional dos Transportes) revelou que 84% das estradas do estado estavam classificadas em estado regular, ruim ou péssimo.

Certamente hoje este panorama deve mostrar-se ainda mais sombrio face às opções feitas pelos investimentos esportivos em detrimento da infraestrutura do interior. Os motoristas e caminhoneiros que circulam por estas plagas são verdadeiros heróis ao colocarem, diuturnamente, sua integridade física em risco, numa roleta russa que cedo ou tarde acaba de maneira trágica.

Buracos, ondulações, trincas, falta de sinalização, falta de acostamento, placas escondidas no meio do mato, entre outras situações, refletem uma realidade mórbida e incompatível com a riqueza e potencialidade do estado.

Trafegar pelo anel viário de Cuiabá (BR 364) tornou-se um desafio hercúleo capaz de tomar até três horas para quem se desloca de caminhão. Fotografia tirada esta semana estampa um veículo imerso num lamaçal existente na MT 208, estrada que liga Alta Floresta até Nova Bandeirantes e adjacências. Corajosos que andaram se aventurando pela MT 130 acima de Paranatinga relatam que apenas camionetes traçadas são capazes de vencer a situação encontrada. Em Tangará da Serra para qualquer lado em que houver necessidade de deslocamento encontra-se uma situação caótica: tanto para Campo Novo como para Cuiabá.

Na estrada da Guia, inaugurada há pouco mais de três anos, num primeiro momento havia a proibição do tráfego de caminhões. Hoje, embora sejam caminhões de menor porte do que os bitrens e suas variantes, praticamente metade dos veículos que por lá circulam são veículos pesados. Resultado disso é a deterioração que aumenta a cada dia que passa.

Falando em caminhões pesados os nove eixos que carregam mais de cinquenta toneladas (25 m) são cada vez mais comuns e provavelmente tomarão conta das estradas num futuro próximo. Estes verdadeiros vagões sequer cabem em cima das balanças comuns e são difíceis até de serem ultrapassados pelos veículos pequenos. Se acaso produzem algum benefício por certo não é para os motoristas ou produtores, pois ninguém ouviu falar de que seu frete é mais barato do que os já existentes.

Também é estranho como as manutenções das estradas não possuem nenhuma durabilidade. Estradas que sofreram reparos há menos de um ano já se encontram esburacadas e totalmente danificadas como se não houvessem recebido o investimento adequado.

Culpar o excesso de chuvas ou a intensidade do tráfego é puro comodismo, pois são características já assimiladas pelos mato-grossenses. Esta situação precisa ser mais bem fiscalizada por se tratarem de recursos dos contribuintes gerados a duras penas e que, na maioria das vezes, são geridos de maneira irresponsável e eleitoreira.

* Rogério Arioli Silva é engenheiro agrônomo e produtor rural.
 
Artigo publicado no site da Aprosoja Mato Grosso, em 19.02.2013
 

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