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Abelhas e seus mecanismos de defesa


Decio Luiz Gazzoni
Pelo senso comum, as meloponíneas -  abelhas sem ferrão - são inofensivas, incapazes de se defender. Um estudo de universidades paulistas mostrou o oposto. Uma das defesas é “morder” o intruso, prendendo-se a ele, e o indivíduo morre para proteger a colônia. Na espécie
Trigona hyalinata, as operárias tem a cabeça separada do corpo, por não soltar a mandíbula, matando ou afugentando o predador ou saqueador, salvando seus ninhos-colônias, onde estão o estoque de comida (mel e pólen), a rainha, que coloca os ovos para manter a colônia e as larvas que vão perpetuar a espécie.
A mordida delas dói menos que a ferroada de uma abelha doméstica, mas pode ser suficiente para defender a colônia, afastando o agressor Os pesquisadores se transformaram em cobaias, para medir o nível de dor causado pelo ataque de cada espécie de abelha sem ferrão. Para tanto, colocaram seu próprio braço na entrada da colônia, provocando as abelhas, qual agressores. Classificaram a dor que sentiram entre 0 (pequena beliscada) e 5, uma mordida que causa uma dor desagradável, capaz de romper a pele se for persistente.
Os pesquisadores observaram que a mordida das abelhas do gênero Trigona é mais dolorida do que as outras espécies de abelhas sem ferrão. Observando na lupa, verificaram que elas possuem mandíbulas serrilhadas, parecendo possuir cinco “dentes” afiados.
Os pesquisadores resolveram testar a persistência das abelhas em defender sua colônia, cujo limite é o suicídio. Colocaram uma bandeira tremulando na entrada da colônia, aparentando um agressor. As abelhas “morderam” a bandeira, prendendo-se a ela. Então, tiveram suas asas puxadas com pinças, para ver se largavam o agressor, ou se preferiam ficar sem as asas – uma condenação à morte. As operárias de seis espécies de abelhas sem ferrão mais agressivas demostraram disposição de sofrer danos fatais e morrer, em vez de soltar a bandeira.

Ler o artigo dos colegas paulistas me ensinou mais sobre abelhas sem ferrão, mas, principalmente, mostrou o quanto nós, humanos, temos a aprender com insetos sociais. Eles colocam sua comunidade acima do indivíduo, e seriam incapazes de subtrair um patrimônio coletivo em benefício próprio.
O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa. www.gazzoni.e

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