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A vantagem das abelhas africanizadas


Decio Luiz Gazzoni
Durante séculos o homem aproveitou mel, cera e própolis das abelhas, sem se preocupar com elas. Mas, desde que a ação do homem tem provocado grande mortalidade de abelhas, estamos descobrindo o quão sensíveis elas são.
As abelhas constituem um excelente indicador biológico de desequilíbrio ambiental. Ultimamente, verificou-se que as abelhas são sensíveis a mudanças no clima, suspeitando—se haver uma ligação com o declínio da população de abelhas, observado recentemente em vários países. Um estudo publicado na Science analisou quase meio milhão de registros de 67 espécies de abelhas nos últimos 110 anos, no Hemisfério Norte. A conclusão é de que elas perderam terreno nas áreas mais quentes, ao Sul, e não estão colonizando novas áreas, ao Norte.

Segundo apicultores, aumentos de temperatura reduzem a postura da rainha, que produz mais com temperatura entre 25 e 30º.C. Em condições climáticas normais, as colmeias iniciam o ciclo produtivo 2 meses antes da primavera, que é quando se inicia a safra. Com o advento da primavera, a colônia teria mais de 100 mil insetos, estando pronta para a produção de mel. Se a rainha não mantém a postura, todo o ciclo é retardado, e as colônias são bem menores.
Embora as mudanças no clima sejam muito lembradas pelos apicultores, não se deve olvidar que outros aspectos contribuem para diminuir a população de abelhas. Entre eles é importante considerar a redução do habitat (matas nativas); a simplificação das espécies, com floração muitas vezes concentradas em um período, e falta de flores em muitos meses; o mau uso de agrotóxicos nas lavouras; os problemas sanitários; o manejo inadequado das colmeias; e os inimigos naturais, como determinadas vespas que, para roubar o mel, precisam matar as guardas e operárias da colmeia.

A abelha africanizada é menos sensível aos aumentos de temperatura, do que a raça europeia pura. Esta poderia ser a razão pela qual o problema seria mais grave na Europa, EUA e Canadá. Mesmo assim, precisamos ficar atentos pois, já que não conseguimos controlar o clima, teremos que pensar em outras soluções, seja com genética melhorada ou aprimorando o manejo das abelhas. Só não podemos ficar sem mel e sem polinizadores.
 
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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