A soja está sendo considerada o grão do século, dado o crescimento da área cultivada e da produção de grãos no correr do último meio século. Foi muito superior à de outros grãos. Sua versatilidade de uso na alimentação humana, animal e na produção de biocombustíveis, a torna única, o que constitui o segredo do seu sucesso.
O Brasil acaba de conquistar a liderança mundial na produção desse grão, sinalizando com a perspectiva de que, desta vez, a conquista será definitiva, considerando que na temporada 2017/18 o país chegou a figurar como líder, mas perdeu a posição na safra seguinte.
O Brasil superou os Estados Unidos, líder histórico na produção de soja, feito que parece um sonho para os brasileiros que acompanharam o desenvolvimento da cultura no País desde os seus primórdios. Em 1960, a produção nacional de soja mal alcançava as 200 mil toneladas, quantidade 115 vezes inferior às 23 milhões de toneladas (Mt) produzidas pelo país norte-americano. Pouco mais de meio século depois, o Brasil está colhendo uma safra aproximada de 122 Mt ou 610 vezes maior que a safra colhida na safra 1959/1960. Este espetacular crescimento ocorreu com a expansão da área e, também, pelo aumento superior a 200% da produtividade média: 1.087 kg/ha da safra 1959/1960 ante cerca de 3.300 kg/ha da safra 2019/2020.
No último concurso para máxima produtividade no Brasil (safra 2019/20), patrocinado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB), o vencedor do certame alcançou um rendimento de 7.129 kg/ha de grãos. Este resultado dá uma noção do potencial produtivo da soja no País, a partir da integração e potencialização de todos os fatores de produção, o que permite ótimas condições de desenvolvimento da planta. Os concursos de produtividade sinalizam que aumentar significativamente a produção da oleaginosa sem necessidade de avançar sobre áreas de vegetação nativa, é algo possível. Contudo, enfatiza-se que produzir bem é importante, mas mais importante é ter lucro, o que se consegue com a boa produtividade aliada a uma gestão eficiente da propriedade agrícola.
Existe, também, a expectativa de aumento do cultivo de soja, sem realizar desmatamentos, substituindo milhões de hectares de pastagens degradadas e inserindo a cultura em contextos produtivos específicos, como a renovação de canaviais nos estados de São Paulo e Alagoas e a rotação com arroz no Rio Grande do Sul. Diante deste cenário, o MAPA estima aumento de 27% na produção de grãos (soja e milho, principalmente), na próxima década.
A liderança que o Brasil acaba de conquistar na produção, se junta à liderança que já desfrutava nas exportações do grão. Ambas as conquistas parecem ser definitivas, dada a diferença que separa as produções do Brasil e dos EUA: 97 Mt dos americanos em 2019, ante uma expectativa de 122 Mt do Brasil em 2020, em vias de conclusão. Diferença de 25 Mt (IBGE).
A projeção do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) para a safra americana a ser colhida até o final de 2020, aponta para uma produção de 112 Mt, 15 Mt maior que a da temporada anterior, mas 19 Mt menor que a expectativa da safra brasileira 2020/2021, que poderá ultrapassar as 131 Mt. Para alcançar este valor, a projeção aponta para o Brasil uma área de 38,3 milhões de hectares e uma produtividade de em torno de 3.420 kg/ha.
Para a safra 2019/2020 de soja do Brasil, chegou-se a especular sobre a possibilidade de uma colheita de até 126 Mt, previamente à confirmação da frustração da safra gaúcha, que viu a prolongada estiagem ceifar cerca de 8 Mt da produção esperada. Esta é a maior quebra da cultura, registrada em um único estado na história do Brasil. Entretanto, 2020 tem sido o ano que o mercado registrou os maiores preços recebidos por saca de 60 kg, que chegou a superar R$ 100,00.
Na safra 2018/2019), também houve quebra de produção, com destaque para os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Mesmo sem umidade adequada no início da temporada de plantio, muitos produtores arriscaram semear a soja em setembro, logo após o fim do Vazio Sanitário, e foram surpreendidos pela ausência de chuvas até final de outubro. A colheita do PR ficou limitada a 16,3 Mt, ante uma expectativa de 20,0 Mt, enquanto SP e MS colheram, respectivamente, 3,0 Mt e 8,5 Mt, abaixo das respectivas expectativas de 3,5 Mt e 10,0 Mt, de tal forma que a safra brasileira fechou o ciclo com 115 Mt, valor inferior à previsão inicial, que excedia 120 Mt.
A saga da soja continua e tudo indica que seguirá surpreendendo com bons resultados por muitos anos ainda. O mundo precisa cada vez mais da soja brasileira.