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A relação entre a dívida do brasileiro e o crescimento nacional


Cláudio Boriola

Fato consumado hoje no Brasil é de que a dívida do Brasil diminui: já pagamos à dívida externa e a dívida interna está relativamente sob controle, é grande, mas não cresce velozmente, é só ver esse tal de superávit, é o começo. Depois de tantas gerações, o brasileiro viu pela primeira vez a chance de dizer que o país não está mais devendo. Recentemente até foi divulgado que o Brasil era credor internacional (é até difícil de acreditar), demonstração do trabalho do brasileiro e da competência de nossos economistas que estão no governo.

 

Mas e quanto à dívida do cidadão brasileiro? Quem está se preocupando com ela? Aquela dívida comum, que vai desde o cartão de crédito até o financiamento da casa própria. Ela cresceu, e muito. Ter dívidas não é ruim, podemos dizer que é até um indicador de saúde da economia, e o Brasil é um exemplo disso, parte do crescimento do PIB está diretamente relacionado ao aumento do consumo do crédito. Vamos explicar: conforme a economia se estabiliza, as pessoas trabalham, há empregos, as pessoas se sentem confortáveis para assumir compromissos financeiros de longo prazo, dívidas, financiamentos, eventualmente mimos que podem custar caro, mas que as pessoas julgam poder pagar. Uma economia estável e crescente estimula o crédito, que estimula o consumo, que mantém o ciclo de crescimento.

 

Mas nem em todos os momentos o crédito é favorável, pois o movimento atual do mercado de crédito brasileiro é de duplo crescimento, um impulsionado pela economia, juros baixos, oferta de emprego. Outro é dado pelo forte aumento artificial da oferta de crédito, de maneira agressiva, pelos bancos e principalmente pelas financeiras em busca de margens gigantescas e oferecendo crédito mesmo para quem não pode pagar, ou para quem já está bem endividado. Este crédito é nocivo e trás maus lençóis para todos: o cliente não consegue pagar, a empresa recebe calotes, o banco assume perdas, a economia fica desconfiada, e quando menos se espera, podemos estar numa crise como a americana.

 

Segundo o jornal o Estado de São Paulo, em 2007 o número de americanos que declarou falência pessoal cresceu 40%, por causa da dificuldade de pagar hipotecas e dívidas de cartão. Foram 801.840 americanos declarando falência pessoal no ano passado, ante 573.203 em 2006. As dívidas de cartão de crédito estão crescendo mais de 10% ao ano (cresciam de 3% a 4% ao ano entre 2003 e 2005). Segundo uma pesquisa da Lending Tree, empresa de gerenciamento de crédito, quase metade da população americana (48%) se sente desconfortável com a quantidade de dívidas que tem.

 

A explosão do mercado automotivo brasileiro é um exemplo de que podemos caminhar nesse sentido. Para Ray Young, até pouco tempo presidente da GM no Brasil, a bolha é potencial e semelhante àquela recém-estourada nos EUA, relacionada ao mercado "subprime" de imóveis. No Brasil, são os consumidores que, atraídos pelos juros baixos e incentivados por promessas de pagamento "só depois do Carnaval", vêm utilizando o crédito do setor não apenas para comprar um carro novo, como para buscar a quitação de dívidas envolvendo taxas mais altas de juros.

 

De maneira geral ainda estamos longe do panorama americano, 55% das dívidas dos brasileiros é paga com carnê ou débito em conta, e 77% do total das dívidas são para aquisição de produtos de bens duráveis. Pesquisa realizada pela Ipsos aponta que a classe C é a mais endividada, com 45% das pessoas que disseram estar pagando algum empréstimo ou financiamento. Em seguida, estão a AB (41%) e a DE (31%). As pessoas mais endividadas estão nas regiões Norte e Centro-Oeste do País, com 64% dos pesquisados que disseram possuir débitos pendentes. No Sudeste, são 40%, enquanto no Sul são 35% e no Nordeste, 26%.

 

Devemos lembrar, portanto que é importante o cidadão ter consciência plena da sua capacidade de pagamento, e para tal, antes de contrair qualquer dívida, planejar bem, responder a questões básicas como “terei capacidade de pagar sem muita dificuldade essas parcelas?”, “tenho um planejamento confortável?”, “já não estou muito endividado?” para tomar uma decisão saudável e que não lhe traga problemas no futuro. Adquirir compromissos de mais longo prazo requer planejamento mais cauteloso ainda, e se for o caso, exige a orientação de um profissional, preferencialmente neutro: não é muito racional perguntar um vendedor de veículos se realmente vale a pena se endividar para comprar um veículo em questão.

 

Lembre-se: é importante estar prevenido para tempos de crise econômica, e sempre é melhor pagar a vista do que a prazo, pois assim o “stress” de se preocupar com dívidas simplesmente desaparece.

 

Cláudio Boriola,  Consultor Financeiro, conferencista, especialista em economia doméstica e direitos do consumidor. Fundador e Presidente da Boriola Consultoria - www.boriola.com.br. Autor dos livros: Paz, Saúde e Crédito;  Práticas da Negociação; De Um tostão a Um Milhão e do Projeto para inclusão da disciplina "Educação Financeira nas Escolas"  Para falar com o Consultor clique aqui

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