CI

A essência das olimpíadas



Manoel Carlos Ortolan

As manifestações e confrontos que ocorreram em todas as cidades por onde a tocha olímpica já passou - Londres, Paris, São Francisco - e mesmo no Tibete, onde foram iniciados, acabam se transformando em tristes marcos de uma festa que foi criada há quase 3.000 anos para promover exatamente o inverso: a união e a paz entre os povos por meio do esporte. A poucos meses das Olimpíadas de Pequim e com os holofotes do mundo voltados à China, o conflito no Tibete se alastrou rapidamente como um rastro de pólvora pelo mundo, por conta da complicada relação entre os tibetanos e o governo chinês.
O Tibete foi incorporado pela China em 1949 e, desde então, se transformou em uma província com autonomia controlada e sua população é, em sua grande maioria, adepta do budismo. Em 1950, os monges tibetanos se rebelaram contra a dominação chinesa, mas foram massacrados. Depois disso, o líder espiritual Dalai Lama se exilou na Índia e todos os anos os tibetanos relembram o confronto. As últimas manifestações foram iniciadas no dia 10 de março, data que marcou o 49o aniversário do levante tibetano. Já houve várias mortes e a China, que controla o acesso às informações, tenta minimizar o movimento.
As manifestações de grupos que apóiam o Tibete têm se transformado em lamentáveis espetáculos de violência. A tocha olímpica já foi apagada e já se estuda até suspender suas passagens por outros países. Os cinco anéis que representam os jogos foram transformados em algemas entrelaçadas, numa alusão à opressão chinesa sobre o Tibete. São simbologias negativas de um evento cercado de boas intenções.
Os gregos inventaram os jogos olímpicos para exibir suas habilidades e agradar aos deuses. As disputas esportivas, iniciadas em 776 aC (antes de Cristo), eram também um tratado de paz entre cidades gregas que viviam em guerra e que se comprometiam a cada quatro anos enviar seus melhores atletas para os jogos em Olímpia.
Assim, os jogos significavam uma trégua sagrada e durante seus sete dias de duração estavam suspensas rivalidades de qualquer natureza e era proibido entrar na cidade de Olímpia carregando armas. As olimpíadas foram realizadas assim até 394 dC (depois de Cristo), quando os romanos invadiram a Grécia e suspenderam os jogos. Mil e quinhentos anos depois, o francês Luis de Freddly ou Barão de Coubertin conseguiu reunir, em 1894, representantes de 12 países com o intuito de realizar os jogos olímpicos, o que ocorreu dois anos depois na Grécia. É dele a frase “o importante não é vencer, mas sim competir”.

Desde então, as Olimpíadas só foram interrompidas em três oportunidades: 1916, 1940 e 1944, durante as duas Guerras Mundiais. Os cinco anéis que formam sua marca simbolizam os cinco continentes e a tocha olímpica é mantida acesa durante todo o evento porque o fogo une e congrega, aquece e ilumina. A essência dos jogos remete ao bem, à paz e à união e não poderia ser manchada com violência e confrontos. É justa a reivindicação do Tibete? Pode ser. Mas os manifestantes não deveriam denegrir as Olimpíadas, como fazem com esses atos de violência. Ao contrário, poderiam valorizar mais a essência da criação dos jogos com manifestações contundentes, mas pacíficas. O mal deve ser combatido com o bem, o ódio com o amor e a opressão com demonstrações de que a liberdade é insubstituível. É o caminho mais difícil e também mais nobre.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.