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A encrenca está feita, e não tem associação pra defender a soja.


Richard Jakubaszko

Recebi em 16 de setembro último o press release da Secretaria da Agricultura de São Paulo. O título é bombástico, tenho de reconhecer. Ficou bem ao gosto da grande mídia sensacionalista, cujo objetivo parece ser apenas o de vender jornal e gerar audiência:

(Veja parte do release, os grifos e negritos são meus)

 

Título: "ITAL detecta compostos cancerígenos em óleo de soja".

"Pesquisa do Instituto de Tecnologia de Alimentos, ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (Ital/Apta/SAA), verificou a presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) - compostos orgânicos cancerígenos e que podem provocar mudanças no material genético das células - em óleos de soja encontrados no mercado. As análises apontaram a contaminação de todas as amostras coletadas, que pertenciam a diferentes marcas. O ITAL é a única instituição no Brasil a realizar testes de detecção dos HPAs em alimentos”.
 
O texto esclarecia ainda que "No caso do óleo de soja, os resultados obtidos pela pesquisa - que avaliou 42 amostras coletadas ao longo de um ano - eram esperados. Os HPAs são formados, nesse caso, durante a secagem da soja, pois, no Brasil, ainda se utiliza a secagem pela queima da madeira. Eles se depositam no grão e passam para o óleo bruto. Durante o processamento, ocorre certa diminuição, mas não perde 100%”, diz a coordenadora do trabalho, Mônica Rojo de Camargo. A conscientização e a mudança de postura devem partir da indústria, já que o consumidor não tem como se proteger. Uma das alternativas é substituir o processo de secagem”.
 
Para complementar a informação havia um complemento necessário: "Os HPAs são gerados na queima incompleta de material orgânico. Essa importante classe de carcinogênicos (compostos cancerígenos) faz parte do dia-a-dia do homem, já que está presente na poluição ambiental e em muitos alimentos e bebidas, tais como hortaliças, carnes, café, chá, óleos e gorduras e grãos. Como conseqüência, sua presença em produtos alimentícios tem sido objeto de preocupação nos últimos anos. Eles oferecem risco à saúde caso sejam inalados, ingeridos ou se houver contato com a pele.
 
Pára o baile! Desejam-se explicações...

Quer dizer que agora até o óleo de soja está na mira?

Sim, está e estará!

Sabe por que vai continuar? Porque não tem ninguém pra defender a soja.
 
Se houvesse uma associação de produtores de soja, mas representativa dos produtores, haveria umadefesa. A explicação de toda essa questão feita pelo ITAL, assunto que nem polêmico é, pois está justificado no próprio press release. Lembro aos leitores que apliquei os grifos e coloquei uma cor em cima da própria justificativa dada pela Secretaria da Agricultura. Houve exagero da Secretaria da Agricultura? Nem tanto, mas talvez, isso sim, não se tenha dado relevância política, apenas relevância técnica para a notícia, que é espalhafatosa e dramática, até porque a soja deve estar lá pelo 10º lugar no Estado de São Paulo em termos de importância como lavoura plantada.
 
Defender interesses técnicos, econômicos e políticos dos produtores de soja seria uma das muitas tarefas de uma associação dos produtores de soja como sugeri nos artigos anteriores (Está tudo errado no agronegócio!), disponíveis aqui neste portal e no meu blog: HTTP://richardjakubaszko.blogspot.com 
 
Enquanto os dirigentes de cooperativas se mantiverem calados – e se fingindo de mortos, pois acham que o assunto não é com eles – a situação vai continuar do jeito que está. A única coisa que podem fazer, neste momento, isolada ou coletivamente, é calcular os prejuízos que poderiam advir se houver alguma ação dos consumidores em rejeitar o consumo de óleo de soja por conter os tais compostos carcinogênicos.

 

A grande imprensa nem deu bola para o assunto, saiu apenas algumas notas de rodapé, ficou mais como notícia e clipping da grande maioria dos sites ligados ao segmento agropecuário e a um ou outro site ligado aos setores de alimentação. Uma busca no santo Google com as palavras “óleo de soja – carcinogênico – Ital”, me revelou que menos de 30 sites e blogs divulgaram a má notícia, o que já seria motivo para uma associação de produtores de soja vir a público e dar as devidas explicações.
 
Não vai ter explicações sobre o problema do óleo de soja porque não tem associação. Mas pergunto: e se fosse algo realmente importante, algo tipo como uma contaminação conforme aconteceu recentemente com o leite e com outros alimentos? O leitor consegue calcular os prejuízos?
 
Para fazer uma associação precisa ter união dos produtores, e o caminho é fazer com que as cooperativas o representem, e através das cooperativas se estabeleçam associações, seja de soja ou de milho, para defender os interesses dos produtores, nesses e noutros assuntos relevantes. Rezar e reclamar depois do leite derramado sempre dá muito mais prejuízo.

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