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A carne brasileira vai alimentar o mundo


Ian David Hill

Pelas contas da FAO, a oferta de carne bovina em 2008 atingirá o recorde de 68 milhões de toneladas. Há uma década, a produção mundial era de 50 milhões de toneladas. No mesmo período, a economia mundial cresceu mais de 20% e a população ganhou mais de 300 milhões de pessoas. O resultado é implacável: a disponibilidade de proteína vermelha já não está conseguindo atender à demanda do planeta, apesar de todo o ganho de escala e em produtividade. 

E esse não é um sintoma exclusivo da pecuária de corte. O mesmo acontece com o leite, a carne de frango e de suínos, o milho, a soja... Conclusão da própria FAO: em cinco anos, a produção mundial de alimentos de origem animal e vegetal e o consumo global estarão nos mesmos níveis. Ou seja: chegou ao fim a era do alimento farto e barato.

Esse cenário pode ser analisado sob vários parâmetros. Em termos gerais, é claramente preocupante e pode suscitar uma série de movimentos reacionários em todo o mundo. E isso já está acontecendo, com revoltas na África, greves na Argentina e passeatas no México, somente para citar alguns exemplos mais próximos.

Há, também, um aspecto fundamental: a pecuária não disputa os alimentos com os seres humanos. O do gado brasileiro consome capim e não grãos, deixando milho e soja para a demanda da população e não necessitando do precioso elemento fósforo, cujos preços mundiais explodiram nos últimos meses por conta do aumento da produção de fertilizantes.

Para o Brasil, o panorama é efetivamente positivo, mas também emblemático, já que apesar das dimensões territoriais e as potencialidades produtivas inequívocas derrapamos em questões menos importantes e burocráticas e deixamos mais de 30 milhões de pessoas em condições de miséria apesar das 140 milhões de toneladas de grãos, das 25 milhões de toneladas de carnes e 26 bilhões de litros de leite por ano.

Especificamente na carne bovina, nossos avanços têm sido claros. Há uma década, produzíamos 6,5 milhões de toneladas por ano; em 2008, superaremos a barreira das 10 milhões de toneladas. A taxa de abate saltou de 22% para mais de 25% no período, o que significa que os animais ficam prontos para o frigorífico mais cedo por conta dos investimentos em genética, nutrição, sanidade, manejo e gestão. No mesmo período, as exportações brasileiras de carne bovina ganharam o mundo. Ante 370 mil toneladas embarcadas há dez anos; chegamos hoje a 1,5 milhão/t para mais de 150 países.

No entanto, se vamos bem em algumas áreas, continuamos pecando dentro e fora das porteiras. A imagem internacional negativa por conta de problemas sanitários e ambientais é apenas um dos vários problemas que envolvem a logística, o ineficiente sistema produtivo, as regulamentações complicadas, a fiscalização ineficiente, a falta de força política e de unicidade das organizações que nos defendem, a rastreabilidade precária, a baixa credibilidade no exterior.

Como resultado, a pecuária brasileira é uma fantástica atividade de extremos. A diferença entre as ilhas de tecnologia e a criação de subsistência é impressionante. Ao mesmo tempo que temos animais prontos para o abate aos 18 meses, temos gado com mais de 60 meses ainda nas propriedades.

Além disso, a individualidade é outra característica marcante da nossa pecuária e impera a lei do mais forte. E sabemos bem que uma atividade forte se faz com a união dos seus elos.

Atividade de contrastes, em que pese todos esses desafios a pecuária brasileira cresce e é uma das esperanças do mundo para o aumento da produção de carne bovina. E nossas potencialidades são igualmente fantásticas. Temos mais de 200 milhões de hectares a avança, temos instituições de ensino de qualidade, profissionais cada vez mais capacitados, mão-de-obra farta e barata, meio ambiente e clima propícios, o inquestionável aumento da produtividade, a pesquisa, o tamanho – afinal, são quase 170 milhões de cabeças – e uma indústria forte, que cresce em ritmo acelerado e já participa, com unidade no Brasil e no exterior, de mais de 50% do comércio mundial de proteína vermelha. São todas essas características que impulsionam a atividade, negócio presente em mais de 5 milhões propriedades brasileiras. Cumpre apenas a nós, os agentes da cadeia, trabalhar em conjunto para vencer os obstáculos – que não são poucos –, intensificar os ganhos e contribuir ainda mais para aplacar as necessidades de proteína vermelha do mundo.

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