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Visões distorcidas da Ciência


Decio Luiz Gazzoni
Na semana passada comentei a diferença de visão entre cientistas e leigos, nos EUA. Na América Latina (AL) é pior ainda. O nível de conhecimento sobre Ciência é dramaticamente baixo, conforme divulgado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, na FAPESP Week Buenos Aires.

          “As populações dos países da AL sequer sabem se é feita Ciência e muito menos em quais instituições essa atividade é realizada em suas respectivas nações”, lamentou Marcelo Knobel, professor da Unicamp. A avaliação é corroborada por pesquisas de percepção pública realizadas nos últimos anos no Brasil pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pela FAPESP. Na última pesquisa, somente 14% dos participantes conhecem alguma instituição científica no país.
          Nos demais países da AL, a pesquisa é realizada pela Red Iberoamericana de Indicadores de Ciencia y Tecnología (RICYT). Na Argentina, apenas 20% dos participantes souberam indicar uma instituição de pesquisa no país.
          Dos entrevistados na AL, 79% não acessa conteúdo sobre Ciência por ser um assunto complicado, difícil de entender, e 20% perderam o interesse por Ciência pelas fragilidades da escola onde estudou. Apenas 2% a 5% da população da AL acessa conteúdos científicos, livros, matérias jornalísticas em jornais e na internet, e visita museus e centros de ciência. A cidade de São Paulo é exceção, com 30% dos consultados se interessando por Ciência.
          Divulgação da Ciência para o grande público é essencial. A Unicamp criou, no final da década de 1990, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), que realiza pesquisas sobre percepção pública da Ciência e ministra um curso de especialização em jornalismo científico. Nos últimos anos, o Labjor também oferece um curso de mestrado em divulgação científica e cultural que aceita estudantes de qualquer área do conhecimento.

          Como destaquei na última coluna, dispor da melhor informação leva a decisões mais seguras e mais bem fundamentadas. Apenas a desinformação e a obscuridade explicam a fobia que levou à destruição dos Laboratórios de pesquisa do Instituto Royal, das estufas com eucalipto transgênico da FuturaGene, e à invasão das reuniões da CTNBio.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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