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Utilização da Casca de Cacau na Alimentação Animal



Newton de Lucena Costa

Nas regiões cacaueiras grandes quantidades de casca do fruto são eliminadas na lavoura após sua colheita e quebra, ao se iniciar o beneficiamento da semente. Ultimamente, a utilização da casca  fresca do fruto do cacaueiro (CFC) vem sendo difundida como alimento alternativo para ruminantes, sob a forma in natura ou triturada. A CFC representa entre 5 e 8% dos grãos, sendo em grande parte absorvida pela indústria farmacêutica para a extração da theobromina.

O valor nutritivo da CFC varia com uma série de fatores (procedências do cacau, conservação das cascas, tipo de torrefação e estádio de maturação), os quais determinam controvérsias ou discrepâncias nos valores de sua composição química. Em geral, a CFC apresenta 1.538 kcal/kg de energia digestível; 35,5% de nutrientes digestíveis totais; 16,0% de proteína bruta; 4,9% de gorduras; 14,89% de fibra bruta e 7,2% de resíduos minerais (cinzas). Ademais, contém um alto teor de vitamina D2 (29.000 U.I./kg), o qual é superior ao de qualquer outro alimento de origem vegetal.

O consumo da CFC tem sido frequentemente limitado pelo conteúdo de alcalóides como a theobromina e a cafeína, em proporções que variam de 0,3 a 0,8%, as quais podem causar intoxicações nos animais e até causar sua morte. Os suínos são particularmente sensíveis ao consumo de CFC, sendo observado uma ação estimulante sobre o sistema nervoso central, bem como sobre o sistema cardiovascular. A partir do sétimo dia após a quebra do fruto, ou em menor período, quando as condições de umidade e temperatura do ar são elevadas, a CFC apresenta-se inapta para o consumo animal, limitando-se a sua utilização às propriedades que realizam colheitas semanais.

A CFC é de fácil deterioração por seu elevado teor de gorduras, a qual pode ser removida através de operações de desengorduramento e destheobrominização. Contudo, estas operações diminuem o teor de vitamina D, a qual está ligada a fração gordurosa. Numerosos casos de envenenamento têm sido relatados para animais consumindo CFC, notadamente suínos e equinos. Uma forma prática de eliminar parte da theobromina consiste na maceração da CFC por um período de 48 horas em recipientes contendo água, devendo a casca ser previamente picada. Com este procedimento, além da eliminação parcial da theobromina, a palatabilidade da CFC é sensivelmente aumentada.

A utilização de 50% de CFC em rações de vacas leiteiras equivaleu a 96% das rações que continham quantidades semelhantes de milho, não sendo detectadas alterações no sabor do leite. Avaliando-se o efeito da substituição do capim-elefante (Pennisetum purpureum) por níveis crescentes de CFC, na alimentação de novilhos Holando-Zebu em confinamento recebendo 3 kg/animal/dia de farelo de trigo (18% de proteína bruta), constatou-se que o consumo (9,1 kg de matéria seca/animal/dia) e o ganho de peso (1,0 kg/animal/dia) não foram afetados pelos níveis de substituição. No entanto, o melhor nível de substituição foi de 80%, o qual apresentou melhor conversão alimentar, além de não serem observados distúrbios de ordem nutricional nos animais. Resultados semelhantes foram obtidos para novilhos azebuados confinados recebendo exclusivamente CFC como volumoso e diferentes níveis (1,6; 2,2 e 2,8 kg/animal/dia) da mistura composta por 80% de farelo de trigo e 20% de feijão.

Para vacas Holandesas em lactação, recebendo CFC ou capim-elefante à vontade, fornecidos triturados duas vezes/dia, além de concentrado com 28% de proteína bruta, na razão de 1 kg para cada 5 kg de leite produzidos, as vacas que receberam CFC apresentaram maio consumo (13 kg de MS/dia), em relação às que reeberam capim-elefante (11 kg MS/dia), o que foi explicado pela presença de substâncias voláteis na CFC que aumentam a palatabilidade da ração, bem como pela maior taxa de passagem pelo trato digestivo, sendo inclusive, observado efeito laxativo nos animais. As produções médias de leite foram 7,75 e 6,20 kg/vaca/dia com teores de gordura de 3,8 e 5,7%, respectivamete para as vacas que receberam CFC e capim-elefante. Estas últimas apresentaram maior persistência na lactação e melhor eficiência alimentar (64 x 114 g de proteína bruta/kg de leite produzido. Ademais, a inclusão da CFC não alterou as características organolépticas do leite. Para suínos em crescimento o nível de inclusão adequado de CFC nas rações é de 8%, podendo ser de até 10% para animais em engorda. Para aves, recomenda-se a inclusão de até 10% de CFC em substituição ao milho, pois a eficiência alimentar é inversamente proporcional ao nível de CFC na ração.

Newton de Lucena Costa – Embrapa Amapá

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