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Uma cultivar de soja muito amiga das abelhas



Decio Luiz Gazzoni

            Ao longo das últimas décadas, com a intensa expansão da área, as lavouras de soja chegaram cada vez mais perto dos apiários fixos. Os apicultores perceberam que a soja é um excelente pasto apícola, produzindo quantidades apreciáveis de néctar de alta qualidade. Por sua vez, os produtores de soja verificaram que a soja que se desenvolve próximo de apiários exibe produtividade mais alta em relação aos talhões afastados de apiários, ou de matas habitadas por abelhas silvestres.

            Em estudos realizados pela Embrapa foi comprovada tanto a qualidade do néctar da soja como alimento para as abelhas, a grande quantidade produzida pelas flores de soja, quanto os incrementos de produtividade da soja cultivada próximo de apiários ou repositórios de abelhas. Nessa condição, as pesquisas da Embrapa mostraram ganhos médios de produtividade da soja de 13%, se cultivadas próxima de apiários.

            Em qualquer integração produtiva, sempre há regras a serem respeitadas, permitindo que a relação seja harmoniosa e promova benefícios mútuos. A integração entre apicultura e sojicultura não foge desse padrão de convivência. Portanto, boas práticas, tanto apícolas quanto agrícolas e de comunicação, precisam ser respeitadas por apicultores e sojicultores. A Embrapa está desenvolvendo estudos para descrever e validar as boas práticas de criação de abelhas e de cultivo da soja, para uma integração harmoniosa entre essas atividades.

            Um dos aspectos com maior potencial para disromper a harmonia entre apicultura e sojicultura são as medidas fitossanitárias. Se não houver estrita observância das recomendações do MIPSoja e da tecnologia de aplicação de pesticidas, podem ocorrer acidentes, como intoxicação e até mortalidade de abelhas.

 

Soja mais amigável

            As abelhas visitam a soja apenas quando existem flores nas plantas. Logo, o risco de uma intoxicação por aplicação de pesticida se restringe aos dias imediatamente anteriores e durante o florescimento. Nesse período, as aplicações para o controle de percevejos não são necessárias, pois estes se alimentam apenas nas vagens, portanto não são recomendadas como boa prática.

            Assim, se for utilizada uma cultivar de soja resistente às lagartas desfolhadoras e tolerante aos percevejos fitófagos, a probabilidade de ser necessária uma aplicação de inseticidas, enquanto as abelhas estiverem visitando a soja, é próxima a zero. Na prática, reduz a um mínimo a probabilidade de efeitos colaterais nas abelhas. Ou seja, o risco de intoxicação de abelhas por pesticidas é ínfimo, apenas seguindo as recomendações do MIPSoja, associada a uma cultivar de menor susceptibilidade às pragas.

            Existe uma cultivar de soja, denominada BRS 1003 IPRO, desenvolvida pela Embrapa Soja, que se encaixa nesta condição de menor necessidade de inseticidas, por ser resistente às principais lagartas desfolhadoras, e mais tolerante aos danos de percevejos, por ser portadora das tecnologias Intactaâ e Blockâ, respectivamente. Essa cultivar permite a semeadura antecipada que, além de viabilizar a safrinha com outras culturas, facilita o manejo das pragas. Por apresentar essas tecnologias e características a BRS 1003 IPRO, resguarda os inimigos naturais tanto no período vegetativo quanto na fase reprodutiva da soja. Mesmo que seja necessária uma aplicação para controle de percevejos, esta deverá acontecer após o período de floração da soja, reduzindo o risco de exposição das abelhas às pulverizações com inseticidas.

            Portanto, trata-se de uma cultivar de soja muito amiga das abelhas, e também dos sojicultores. Produz néctar de qualidade, reduz ou até dispensa o uso de pesticidas, sendo favorecida pela polinização suplementar realizada pelas abelhas. Assim, a visita das abelhas pode redundar em produtividade superior aos 6.400 kg/ha, obtida pela BRS 1003 IPRO nos estudos da Embrapa, em Ventania, no Paraná.

            A cultivar também é resistente ao herbicida glifosato (tecnologia RR2â), apresenta ampla adaptação e estabilidade de produção com alta performance produtiva, inclusive em áreas com a presença do nematoide de galhas Meloidogyne javanica, ao qual é moderadamente resistente. É classificada nos grupos de maturidade relativa 6.3 e 7.0, com recomendação de cultivo em diversas regiões edafoclimáticas do Brasil, como os estados de SC, PR, sul de SP e do MS (6.3), norte de SP, além de MS, GO e MG, e Sudoeste do MT (7.0).

            Para obter mais informações, siga o link https://www.embrapa.br/soja/intacta/brs1003ipro ou consulte a Embrapa Soja.

 

Os autores são pesquisadores da Embrapa Soja. D. L. Gazzoni é membro do Conselho Científico da A.B.E.L.H.A., da Academia Brasileira de Ciência Agronômica e do Conselho Científico Agro Sustentável.

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