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Um prêmio Nobel para o Brasil?


Decio Luiz Gazzoni
É lugar comum dizer que Roberto Rodrigues é o ministro mais eficiente deste Governo. E já se ouve, com insistência, que ele está se consagrando como o melhor Ministro da Agricultura que o Brasil já teve. Não há como conversar com o Ministro Roberto Rodrigues, ou assistir a uma palestra dele, sem sair enriquecido. Não foi diferente no dia 25 de abril, quando dirigiu suas palavras para a diretoria e chefias de unidades da Embrapa. Dois temas sobressaíram em sua preleção: agroenergia e financiamento da pesquisa, apresentados com segurança e elegância.


Agroenergia
A palavra não consta do Aurélio, mas ela é um sinônimo de bioenergia, a energia que sai dos campos para gerar eletricidade, movimentar carros, caminhões, trens ou navios, gerar vapor nas caldeiras ou para aquecimento doméstico e industrial. A agroenergia inclui o etanol da cana de açúcar, os biocombustíveis derivados de óleos vegetais, a biomassa florestal (lenha, briquetes ou carvão) e os resíduos agrícolas ou de processamento da agroindústria.

Nobel
O Ministro Roberto Rodrigues relatou sua reunião com a Direção do Banco Mundial, onde negociava recursos para a pasta da Agricultura. Um dos diretores comentou que ele era a primeira autoridade de um país que buscava financiamento do BIRD para o setor de agroenergia. Roberto não perdeu o mote e argumentou que a agricultura tinha recebido apenas um Prêmio Nobel. E que o segundo estava a caminho, porque as pesquisas para a geração de energia de biomassa ainda renderiam um Prêmio Nobel para o Brasil!

Potencial
O ministro discorreu com muita autoridade sobre a Agricultura de Energia. A sua visão de futuro é extremamente importante para balizar as ações de hoje, que repercutirão no futuro do País. Estima-se que, até meados deste século, o montante de recursos que será movimentado pelo complexo de biomassa agrícola, para fins energéticos, será superior a 50% do valor do PIB do agronegócio. As bases tecnológicas que darão sustentação à realização deste potencial necessitam ser lançadas agora, para garantir a nossa competitividade setorial. Portanto, é importante que as pessoas que ocupam cargos de decisão tenham a clareza que uma deliberação mal tomada hoje terá o condão de retardar a chegada do futuro.

Álcool
Com fina ironia, o Ministro relatou os esforços feitos pelos EUA para a extração de etanol de milho. Destarte os avanços de tecnologia agronômica e de processo, extrair álcool de cereais é economicamente insustentável, se comparado à cana de açúcar. Lastreados em vergonhosos subsídios, os produtores americanos podem até chegar perto da produção brasileira de 15 bilhões de litros. Porém, a expansão da área de milho ocorrerá à custa da redução da área de soja, algodão ou trigo, provocando desequilíbrios estruturais. E, com a ratificação da decisão da OMC a respeito da ilegalidade dos subsídios europeus ao açúcar, descortina-se uma nova e fulgurante oportunidade para o álcool brasileiro.


Biodiesel
O negócio álcool será o maior da agricultura de energia brasileira pelos próximos anos. Porém, no médio e longo prazos, os biocombustíveis derivados de óleo vegetal deverão ocupar esse espaço, por sua maior densidade energética e pela maior demanda de combustíveis para serviços pesados. E o Brasil é o país que possui a maior extensão territorial de área agricultável, em regiões tropicais, onde a agricultura de energia é particularmente vocacionada.

Pesquisa
Se o Premio Nobel da visão de futuro do Ministro Roberto Rodrigues fosse concedido hoje, seu receptor seria a Embrapa Soja, que lidera a pesquisa com bioenergia na Embrapa. Entretanto, em sua alocução, o Ministro deixou claro que pretende mais da Embrapa. Deseja que a organização lidere um grande consórcio de esforços de C&T para pesquisa em biocombustíveis, podendo derivar para uma nova unidade da Embrapa, que seria constituída com a missão específica de posicionar o Brasil na liderança da pesquisa em agroenergia no mundo. As gerações futuras, antecipadamente, agradecem ao Ministro por pavimentar o caminho do desenvolvimento futuro do país.

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja (www.gazzoni.pop.com.br)

Décio Luiz Gazzoni

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