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Tirando óleo do campo


Decio Luiz Gazzoni
A legislação brasileira impõe a mistura de 7% de biodiesel no óleo diesel, com tendência de aumento nos próximos anos. São sobejamente conhecidas as grandes vantagens ambientais e sociais do uso do biodiesel, e tudo começa com a matéria prima. Em 2015, o consumo mundial de óleos vegetais e gorduras animais e vegetais ultrapassa 300 milhões de toneladas, e mais de 70% da produção concentra-se em seis países: EUA, China, Brasil, Índia, Argentina e Indonésia. A nutrição é o maior mercado, mas as indústrias de química fina e de energia estão exigindo quantidades crescentes de óleos vegetais.

Quatro culturas respondem por 80% do óleo e gordura vegetal produzido no mundo: dendê, soja, canola e girassol. Outras quatro outras representam 11%: amendoim, algodão, coco e oliva, e dezenas de outras partilham 9% do mercado.
São conhecidas centenas de espécies oleaginosas, mas apenas algumas podem ser cultivadas em grande escala, sendo viáveis porque seus coprodutos são altamente demandados no mercado, como como o farelo de soja ou a fibra de algodão. Entre as oleaginosas potenciais cite-se mamona, linhaça, gergelim, cártamo, nabo forrageiro, crambe, tucumã, buriti, macaúba, indaiá, açaí, geriva, patauá, cotieira, oiticica, nhandiroba, pequi, pinhão manso, jojoba, tingui, entre outros.
Entrementes, deve-se considerar que a produção de biodiesel exige, anualmente, mais de 30 Mt de óleos vegetais e gorduras animais, em escala mundial. Para atender um mercado de volume tão elevado, entendemos que quatro aspectos são cruciais para uma determinada cultura ser considerado como uma matéria-prima com potencial de competição no mercado: a) Possibilidade de cultivo extensivo, em grande escala e mecanizado; b) Cadeia produtiva bem estruturada; c) Inserção como uma comodity no mercado internacional; e d) Baixo custo de produção e preço competitivo, em comparação com outros óleos, e próximo ao paradigma de energia fóssil, que é o óleo diesel.

                O fracasso de tentativas de cultivo de plantas oleaginosas não tradicionais, como o pinhão manso, ou de mercado restrito, como a mamona, indicam a importância de observar atentamente os quesitos acima, seguindo estritamente a racionalidade do mercado.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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