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Tempos de bonança, mas não para todos


Amélio Dall’Agnol
Frequentemente se atribui ao produtor rural a pecha de que ele é um eterno descontente: a produção foi boa, os preços no mercado estão ótimos, mas ele acha que deveria estar melhor e se queixa. Oportunidades há em que os preços estão ruins, ficam bons, voltam a cair e ele reclama porque guardou a safra, perdendo a oportunidade de vendê-la na alta. Será falta de sorte, excesso de ganância ou seria a falta de conhecimento sobre os mecanismos que regem o mercado? Talvez um pouco de tudo.

 
Não vamos aqui discutir a falta de sorte e nem o excesso de ganância que leva produtores a desperdiçarem oportunidades de vender a safra em momentos de alta, mas não realizam o negócio porque querem ganhar mais e acabam perdendo. Vamos apenas analisar alguns fatos que poderiam sinalizar quando um bom preço de mercado poderia ficar melhor, justificando a retenção da safra e quando um bom preço de mercado precisaria ser aproveitado rapidamente, porque as causas que motivaram a sua alta são visivelmente passageiras e, portanto, logo tudo voltará ao que era.
 
Tomemos como exemplo as cotações da soja da safra de 2004, que subiram muito rápido durante o 1º semestre e caíram com a mesma velocidade no correr do 2º semestre. A rápida alta nos preços foi resultado da quebra da safra americana colhida no final de 2003, associada à quebra da safra brasileira colhida no início de 2004. A rápida queda nos preços, por sua vez  foi conseqüência do aumento da área plantada com soja nos Estados Unidos no 1º semestre de 2004, que resultou numa super safra disponibilizada ao mercado ainda em 2004.

Os produtores mais antenados possivelmente não foram surpreendidos com as rápidas mudanças nas cotações do mercado, porque estavam alertas sobre a possibilidade de uma safra americana recorde, dado o aumento da área cultivada e as boas perspectivas climáticas para a obtenção de altos rendimentos. Foi o que aconteceu: os estoques foram recompostos, aliviando o temor de desabastecimento e as cotações despencaram, colhendo os produtores menos atentos ou os mais audaciosos, na rua da amargura.


Por outro lado, hoje estamos com as cotações novamente altas e oscilando na alta desde 2007 e, ainda, prometendo manter-se nesse patamar por algum tempo ainda, visto que a demanda por soja está consistentemente em alta, os estoques de passagem estão perigosamente baixos, a produção da última safra nos países do Mercosul teve quebra superior a 30 milhões de toneladas e a atual safra americana está sendo estimada que será 10 milhões de toneladas menor, com perspectivas de ser superada, pela primeira vez, pela próxima safra brasileira de 2012/13.

A propósito produtor, você ainda tem soja guardada, esperando um preço maior? O preço está ótimo e pode ficar melhor, mas pense se vale a pena arriscar.

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