SOJA: SETA ACIMA
Izner Hanna Garcia
Teorias e teses existem muitas. Qualquer posição que se queira “defender” você poderá encontrar justificativas que soarão racionais e lógicas.
No entanto, leis – na acepção da irrevogabilidade da relação causa consequência – existem poucas.
Uma das leis irrevogáveis, plenamente vigente hoje como sempre, é a lei da oferta e procura.
Maior procura é sempre igual a maior preço.
Pensando no mercado da soja a primeira pergunta: qual a relação oferta / demanda no mercado hoje?
Em resumo a América do Sul terá uma produção de 177 milhões frente uma demanda (consumo + exportação) de 194 milhões de toneladas. Um déficit da ordem de 16 milhões de toneladas.
Esta é a situação na América do Sul.
E se olharmos para o EUA?
O EUA já venderam 98% de sua soja exportável, algo como 56 milhões de toneladas, restante somente 900 mil toneladas para exportação à partir de agora até a safra de verão deles.
Em resumo: o EUA já não tem soja para o mercado externo.
Não por outra razão o Brasil exportou, no 1º trimestre, o volume recorde de 23,56 milhões de toneladas de soja, segundo estimativa da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que calcula suas projeções com base nas informações oficiais de embarques e na programação dos portos brasileiros. O volume é 15% maior que o registrado no mesmo período de 2021.
Em plena safra brasileira os preços tiveram fortes altas sendo que os preços pagos no Brasil foram superiores a Chicago.
Vê-se no estudo da Bloomberg que a soja brasileira à partir de julho/21 teve preços mais altos que Chicago.
Por outro lado as exportações de óleo de soja do Brasil foram recordes no 1º trimestre do ano, com aumento de 83,5% em relação ao mesmo período de 2021.
Vamos agora pensar pelo outro lado, da demanda.
Qual a estimativa de demanda da China, para ficarmos só no gigante asiático?
Se tomarmos que a China precisa de 99 milhões de toneladas de importação do grão, tem-se que hoje já comprou 54 milhões e, assim, ainda tem de comprar 35 milhões.
EUA não tem mais soja exportável.
Os estoques da China estão muito reduzidos.
Querer dizer que a China está enfrentando uma crise de Covid e que esta crise provocaria um “esfriamento” do apetite de demanda por parte da China é, no mínimo, desconhecer história recente.
ACASO DURANTE OS 2 ANOS DE PANDEMIA o consumo de matérias primas foram reduzidos?
Uma pessoa come seja em quarentena ou seja sem quarentena.
Assim, que nem se pense ou argumente que há queda da demanda.
Assim, voltando à Lei da Oferta e Demanda, não resta outra conclusão senão que a soja, de agora até o ingresso da safra norte americana, é um produto que tem mais demanda que oferta.
Esta conclusão sem considerar os efeitos da Guerra na Ucrânia que complica mais ainda a oferta (principalmente de trigo e milho) e que coloca o petróleo sob pressão.
Mas, pelo lado da demanda, especificamente da demanda chinesa.
Diz-se que há um teto de preço em que a indústria “aguenta” pagar.
Este argumento é verdadeiro?
Fazendo uma conta muito aproximada: a China tem de comprar algo como 35 milhões de toneladas de soja. Se a soja subir USD 100,00 por tonelada o valor da compra ficará USD 3,5 bilhões mais caro para China.
Aqui duas reflexões: (i) USD 3,5 bilhões é um valor relevante à China, dentro do seu orçamento, para impedir que compre soja e garanta sua segurança alimentar? (ii) este custo não será repassado à cadeia toda dentro do processo inflacionário já em curso globalmente?
Fala-se muito no aumento do preço da soja e, até de maneira assustada, olhamos as cotações forçarem patamares recordes, quase não acreditando que pode a soja subir mais.
Mas se olharmos os preços do petróleo e as projeções que ainda podem subir mais de 30%, se pensarmos nos preços dos fertilizantes e suas altas recentes e se refletirmos no preço da inflação (8,9% no EUA), será que a soja, em termos reais, subiu tanto?
Izner Hanna Garcia, advogado, pós graduado FGV
e-mail: [email protected]
https://fazendasnouruguai.com/
https://www.youtube.com/watch?v=az7mmt6zstA&list=PL3fec7DyBUADW8UjFG5dGhra0z4vhQZ8H