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Soja e milho safrinha: qual a melhor combinação


Amélio Dall’Agnol
Ninguém mais duvida do acerto de se cultivar soja precoce - semeada cedo na primavera - para permitir uma segunda cultura de verão: milho principalmente. Foi essa estratégia que viabilizou o milho safrinha, primeiro no oeste do Paraná e, posteriormente, em muitos outros rincões deste imenso país tropical. Em 2013, apenas para exemplificar,  o estado do Mato Grosso colheu cerca de 20 milhões de toneladas do cereal, majoritariamente safrinha. O Brasil já colhe mais milho safrinha (plantios de janeiro/fevereiro) do que milho estabelecido na época tradicional (setembro/outubro).
A pesquisa, inicialmente relutante em admitir o cultivo antecipado de soja precoce para viabilizar uma segunda safra de verão, hoje tem ciência da importância do sistema, pois a realidade é outra. Quando o inovador sistema começou a ser implantado (início dos anos 80), ele não era tão seguro quanto o é hoje, dada a deficiência (na época) de cultivares de soja precoces com boa produtividade e desenvolvimento satisfatório para semeaduras antecipadas, o que justificava a contrariedade dos pesquisadores.
Hoje, graças ao estímulo recebido dos próprios produtores e à concorrência de mais atores no processo de desenvolvimento de novas variedades de soja, o produtor tem maior oferta de materiais genéticos que crescem e produzem bem em plantios de final de setembro e início de outubro, o que fez o MAPA, inclusive, reconhecer essa nova realidade e permitir a antecipação da época de semeadura da soja para 20 de setembro.
Mas para tudo tem limites, inclusive para as boas iniciativas. Como a soja precoce semeada no cedo e seguida do milho safrinha deu certo, já há produtores querendo mais e especulando sobre a possibilidade de utilizar variedades de soja super precoces, semeadas super cedo, seguidas de milho, também super precoce, com a perspectiva de ainda poder plantar trigo depois do milho. Três safras num único ano agrícola é demais, convenhamos. Terra também se cansa, se esgota, adoece, morre. Cadê a tal sustentabilidade do processo produtivo?
Caro produtor, não é o número de safras colhidas ou a quantidade de grãos produzidos o que mais conta para o êxito de um empreendimento agrícola, mas o lucro que essas operações deixam ao final do ciclo. Eventualmente, uma única safra bem conduzida poderá gerar mais dividendos ao agricultor do que duas ou três safras forçadas.
O agricultor precisa ter em mente que a cultura principal é a que se planta na primavera e se colhe no verão. A esta deve dar-se toda a atenção e dela extrair o máximo. A cultura que vem depois é safra secundária (safrinha mesmo, como bem se convencionou chamá-la desde o começo). A safrinha é um acréscimo ao sistema produtivo tradicional, que poderá ou não ter sucesso, razão pela qual não se pode sacrificar a cultura principal, para viabilizar a secundária, correndo o risco de colher pouco de ambas. Eventualmente, pode-se colher bem as duas safras, mas será que vale a pena arriscar?
Soja precoce (não super precoce), semeada cedo (não super cedo), seguida de milho de qualquer ciclo parece ser uma boa combinação. E porque não trigo ao invés da safrinha de milho, o que permitiria mais folga na colheita da soja e semeadura do trigo.

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