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Soja: 100 anos de Brasil



Decio Luiz Gazzoni

            A soja (Glycine max (L.) Merrill) tem como centro primário de origem o nordeste da China. Diversos autores citam a soja como uma planta de interesse socioeconômico desde 5.000 anos a.C. Porém, o único registro com fundamentação científica, que encontramos na literatura, indica que ela passou a ser cultivada entre 1100 e 841 a.C.

            Até o século XVI a soja permaneceu restrita à Ásia. Sua introdução oficial no Ocidente ocorreu em 1712, em cultivos experimentais na Europa. A soja alcançou os Países Baixos antes de 1737, quando Lineu a descreveu. Em 1739, sementes de soja, enviadas pelos missionários que estavam na China, foram plantadas no Jardin des Plantes, em Paris.

             O primeiro cultivo de soja nos Estados Unidos ocorreu na Geórgia, em 1765, onde foi testada no sistema oficial de pesquisa do USDA a partir de 1878. Naquele país, diferentes usos foram aventados para a soja, como silagem, feno ou adubo verde.

             Em 1922, a Companhia Staley construiu a primeira grande planta de processamento de soja em Decatur, Illinois. Em 1930, foi criada a NSPA - National Soybean Processors Association, somando-se aos esforços da American Soybean Association (ASA), que já havia sido constituída há 10 anos, com a finalidade de promoção do cultivo e uso da soja.

 

Chegou no Brasil

            O primeiro registro do cultivo de soja no Brasil é atribuído a Gustavo D´Utra, em 1882, em Cruz das Almas (BA). A introdução não foi bem-sucedida, porque as cultivares de soja da época eram adaptadas exclusivamente a climas frios ou temperados.

            Em 1891, foram realizados testes de cultivares de soja no Instituto Agronômico de Campinas para utilizá-la como forrageira. No início do século XX, o IAC distribuiu sementes de soja para pecuaristas paulistas.

            Entrementes, a soja no Brasil somente teve amplo êxito comercial quando introduzida no Rio Grande do Sul, em clima subtropical. Em 1901, foi publicado o primeiro estudo com soja, pelo Prof. Guilherme Minssen, do Liceu Rio-Grandense de Agronomia.

            Em 1914, F.C. Craig, professor e pesquisador da Escola Superior de Agronomia e Veterinária da Universidade Técnica de Porto Alegre, distribuiu sementes de soja para as estações experimentais de Alegrete, Bagé, Bento Gonçalves, Cachoeira do Sul, Júlio de Castilhos, Porto Alegre, Santa Rosa e Viamão.

            Em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, o Prof. Gentil Coelho Leal e o técnico agrícola Floriano Peixoto Machado, efetuaram um plantio experimental em 1921. Com base nos bons resultados obtidos, eles repassaram as sementes de soja para agricultores da região, sendo os primeiros cultivos comerciais realizados em 1924.

            Em 1941 instalou-se a primeira indústria processadora de soja do país, em Santa Rosa. Posteriormente, em 1949, o Brasil figurou pela primeira vez como produtor de soja nas estatísticas internacionais, com produção de 25.000t. Até a década de 1960, o Rio Grande do Sul era, virtualmente, o único Estado produtor de soja no Brasil, valendo-se, para tanto, de cultivares introduzidas dos EUA.

 

Expandiu-se pelo Brasil

            Mas foi com a tropicalização da soja, baseada na descoberta da característica de período juvenil longo, que ocorreu o espetacular avanço da soja, hoje cultivada em, praticamente, todos os estados do Brasil.

            Em 64 anos (1960/2023), a área cultivada com soja cresceu 18.294%, e só não foi maior do que o crescimento de 56.951% da sua produção. Mas o maior orgulho dos brasileiros é o aumento de 311% na produtividade, partindo de 1.127 kg/ha em 1960 e atingindo 3.508 kg/ha em 2023.

            Deus colocou a soja na China. Mas ela descobriu seu paraíso no Brasil. Em nosso país a soja se sente em casa, muito à vontade, 100 anos depois do primeiro cultivo comercial oficial.

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O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, membro do Conselho Científico Agro Sustentável, da Academia Brasileira de Ciências e do Comitê Estratégico Soja Brasil.

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