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Seda de aço


Decio Luiz Gazzoni
Costumo lembrar que a biotecnologia virá em ondas. A primeira, que ora vivenciamos, envolve questões agronômicas e o maior beneficiário é o agricultor. As próximas ondas favorecerão fortemente a sociedade e os consumidores, e quando a cornucópia dos cientistas se abrir, seremos aquinhoados com inovações benéficas. Ao menos uma vez por semana as revistas científicas publicam um novo avanço de peso na biotecnologia. Esta semana li um artigo de pesquisadores americanos que criaram bichos-da-seda geneticamente modificados para produzir fios muito mais resistentes, como os das teias de aranha.

Tentativas anteriores de criar aranhas para a produção comercial de fios fracassaram porque os aracnídeos não produzem quantidades suficientes e têm o mau hábito de predar os membros da própria comunidade. Já a criação de bicho-da-seda é uma técnica milenar, e os insetos produzem grandes quantidades de seda. Segundo os cientistas, da Universidade de Wyoming, os resultados do experimento podem levar ao desenvolvimento de materiais revolucionários para a medicina e engenharia, já que a seda produzida pelas aranhas é mais resistente que o aço. O estudo, publicado na revista científica americana PNAS, pode representar uma revolução no agronegócio e na indústria.
A inovação consistiu em incorporar os genes de aranha responsáveis pela resistência do fio, no bicho-da-seda. As demais características do inseto, de nome científico Bombix mori, como a docilidade, a facilidade de criação, a alta capacidade de proliferação e de produção de casulos com grande quantidade de seda, foram mantidas inalteradas. A alimentação dos insetos continua sendo com folhas de amoreira (Morus nigra).
As aplicações são inúmeras, menos na área têxtil e mais na engenharia e na medicina, podendo a nova seda ser utilizada para suturas, implantes e ligamentos mais fortes. Também poderia ser usada como um substituto mais sustentável para os plásticos duros, que usam muita energia em sua produção, reduzindo o consumo de petróleo e os impactos ambientais negativos associados. Na próxima semana vou contar como o Brasil busca capturar esta oportunidade, com outra abordagem, porém igualmente benéfica para agricultores e consumidores.

 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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