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Riscos sanitários


Decio Luiz Gazzoni
A Copa da FIFA pode deixar um legado para o agricultor do tipo herança maldita. Com milhares de turistas vindo de todas as partes do mundo, abarrotando aeroportos e estradas fronteiriças, o risco de ingresso de pragas exóticas é uma ameaça real. Em 200,8 na Olímpiada da China, a herança maldita foi de 44 pragas agrícolas que entraram com os turistas.

Por que isto acontece, se passageiros internacionais chegam todo o dia no Brasil? Durante o mês da Copa, o volume de passageiros aumenta desproporcionalmente à capacidade de inspeção de bagagens que podem abrigar pragas. Nos aeroportos existe um serviço de vigilância do MAPA, que impede a internalização de produtos agropecuários sem a devida documentação. Mas, escondido lá no fundo da bagagem pode vir uma semente ou muda, um queijo. Ou o passageiro visitou uma lavoura ou criação de manhã, e a noite toma o voo internacional. Nas roupas ou sapatos podem estar fungos, bactérias ou vírus.
O maior risco está nas vias terrestres, em especial nos pontos de ingresso sem aparato de vigilância do MAPA. Estima-se que chilenos ingressarão no Brasil, e circularão pelo país, onde houver jogos do Chile. Os veículos virão abastecidos de comida, terão circulado por áreas de produção agropecuária em outros países, e a contaminação pode vir pelos pneus, lataria, chassi, etc.
Impossível imaginar que o Brasil (ou outro país) possa trabalhar com a hipótese de risco zero. Mas, para proteger o patrimônio representado pelo elevado nível sanitário da nossa produção – o passaporte de nossos produtos para o mercado internacional – precisaríamos estar muito melhor preparados do que estamos hoje. Que isto nos sirva de lição e alerta para o próximo presidente: Um país com vocação para liderar a produção de alimentos no mundo deve dispor da melhor Defesa Agropecuária do mundo. Esta é a Copa que o produtor rural quer ganhar!

Um estudo mostrou o risco de ingresso de 92 pragas durante a Copa. Entretanto, basta o ingresso de uma única praga exótica, ou erradicada de áreas produtivas do Brasil – por exemplo um foco de febre aftosa – para impor ao país um custo maior do que o Governo já gastou para construir os polêmicos estádios da Copa.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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