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Resistência a seca


Decio Luiz Gazzoni
Com a seca desta safra, o Brasil deixou de colher 11 milhões de t de soja, 4 de milho e quase 1 de feijão. No Mercosul, estima-se que a perda dos agricultores supere os R$20 bilhões. Considerando os desdobramentos na cadeia de transporte, processamento, seguros, etc. a perda total deverá ultrapassar a R$50 bilhões. Muitos empregos, renda e uns R$10 bilhões em impostos evaporaram-se na seca. Menor arrecadação de impostos significa menos investimentos em educação, saúde, segurança, habitação, para não falar em bolsa família e cesta básica.

 
Grande parte desse prejuízo econômico, social e ambiental seria evitável se as culturas perdessem menos produção com a seca. Para enfrentar a escassez de água, precisamos investir em sistemas de produção adequados, que incluem zoneamento agroecológico para diminuir o risco de semeadura em áreas com baixa oferta hídrica, manejo adequado do solo e da lavoura, e variedades ou cultivares tolerantes à seca. Para obter sementes com esta característica, duas coisas devem acontecer: primeiro, identificarmos e dispormos de genes de tolerância à seca, comprovadamente eficientes em condições de campo; segundo, investimentos altos e continuados em ciência e tecnologia para garantir que a Ciência estenda os benefícios à sociedade. Nem é tanto dinheiro assim, se comparado às cachoeiras de desvios, como o Mensalão. Claro, ainda teríamos que controlar os bate-bumbos dos que são avessos ao avanço científico, em especial quando envolve transgenia.
 
Neste particular, nossos cientistas abreviam o tempo geológico da Natureza e introduzem os genes que permitem tolerar longos períodos de seca na soja, no feijão, no milho e em outras plantas cultivadas, aprimorando o conjunto de técnicas para diminuir as perdas com a falta de água. Parte da solução se encontra encaminhada: aqui mesmo, em Londrina, cientistas da Embrapa Soja introduziram genes que conferes tolerância à seca na planta de soja – um deles é o gene DREB. Os estudos já estão avançados, com cultivares experimentais sendo testadas no campo. Aí está uma boa bandeira a desfraldar em nome do desenvolvimento, do emprego, do alimento barato e do combate à fome:  diminuir as perdas da produção agrícola pela seca.

 
O autor é Engenheiro Agrônomo. 

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