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Querosene renovável


Decio Luiz Gazzoni
Hoje participo de um seminário sobre biocombustíveis aeronáuticos, em Brasília, promovido pela Embrapa Agroenergia e pela FAPESP. As instituições estão comprometidas com o desenvolvido de biocombustível, que atenda as rigorosas especificações da indústria aeronáutica, a qual exige um combustível de alta qualidade, que opere perfeitamente nas condições rigorosas e adversas da aviação. Em altitude de cruzeiro, um avião comercial enfrenta temperaturas de -50oC e, claro, o combustível precisa atender as especificações para ser queimado na turbina como se estivesse taxiando no aeroporto. Lá em cima, não há acostamento!

        Na preleção, salientei que a pesquisa com biocombustível aeronáutico enfrenta dois desafios: a produção sustentável de matéria-prima, em larga escala, e processos para transformar biomassa em bioquerosene, que atendam as especificações. A demanda do combustível aéreo, que foi de 85 bilhões de litros (GL) em 1980, é hoje de 320 GL e estimada em 580 GL, em 2050. Para comparar, todo o biodiesel consumido no mundo, em 2011, custou R$40 bilhões, e o querosene consumido nos aviões R$500 bilhões. Vinte por cento deste mercado vale R$100 bilhões, sendo esta uma boa estimativa de consumo de bioquerosene, no médio prazo.
        O estado da arte tecnológico, o custo industrial e a capacidade de produção de biomassa não permitiriam atender, hoje, essa demanda. Entretanto, dois movimentos concomitantes tornarão este fato possível, em 25 anos. Primeiro, o desenvolvimento tecnológico, tanto da produção de matéria-prima quanto de processos produtivos, utilizando ferramentas biotecnológicas e nanotecnológicas, viabilizarão a produção de bioquerosene, em larga escala, a baixo custo. Segundo, na década de 2030, as vendas de carros, caminhões e ônibus estarão concentradas em veículos elétricos. Logo, diminuirá a demanda por biocombustíveis para a frota terrestre, aumentando o espaço para produção de bioquerosene. A premissa desta revolução é que, ainda por muitas décadas, os aviões voarão com combustíveis líquidos, ao contrário dos veículos terrestres, que serão movidos a eletricidade. O que muda para o agricultor? As fazendas bioenergéticas produzirão microalgas, ao invés de soja ou milho!

 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.
 

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