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Quando as contas não fecham


Decio Luiz Gazzoni
 
Na semana passada a presidente Dilma participou da Festa do Arroz Agroecológico, um evento do MST / COOTAP, em Eldorado do Sul (RS). Vê-la discursando aos assentados aguçou minha curiosidade de agrônomo: vi a oportunidade de entender qual a vantagem da agroecologia para o agricultor, o consumidor e o pagador de impostos. Assim, aproveitei para analisar os números da produção de arroz dos assentados que participavam do evento.

Segundo o site Notícias Agrícolas, a COOTAP (Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre Ltda,), congrega 522 famílias em 16 assentamentos, que plantam arroz na região de Eldorado do Sul, tradicional produtora do grão. O analista de mercado Eduardo Porto afirma que foram colhidas 463.467 sacas nos assentamentos. A área é de 4.648 hectares, e a produtividade de 99,71 sacas/ha. Os melhores produtores gaúchos colhem quase 250 sacas/ha e a produtividade média no RS (CONAB, 2014) é de 145 sacas/ha, 50% a mais que nos assentamentos. A menor produtividade provavelmente se deve à baixa fertilidade e às perdas por ervas daninhas, pragas e doenças.
O custo de produção do arroz gaúcho (Federarroz) é de R$5.737,57/ha. Retirando fertilizantes e agrotóxicos fica em R$4.541,46. No site Agrolink a cotação do saco de arroz (25/3) é de R$35,00. Segundo a COOTAP há um bônus de 15% para o arroz agroecológico, e o valor vai a R$40,30. O custo para produzir arroz nos 4.648 ha é de R$21.108.706,10. A receita obtida é de R$18.677.720,10. Prejuízo de R$2.430.968,00, ou 4.657,10 por família.

Perguntas: Como pagar os investimentos, as máquinas, o PRONAF? Como sobreviver até a próxima colheita? Como cumprir a Lei que exige um salário mínimo de R$1.006,88 para os trabalhadores rurais?
Minha racionalidade econômica não encontra respostas. Alguém teria que bancar o prejuízo. Ou, então, o consumidor teria que pagar R$60,20 e não R$35,00 pelo saco de arroz, para cobrir o custo e remunerar cada família com um salário mínimo por mês. E, além de sair mais caro, para não faltar arroz no mercado brasileiro, a área precisaria aumentar em 50%, que é a diferença de produtividade entre o arroz agroecológico e aquele que compramos nos supermercados. Encuquei!
 
O autor é Engenheiro Agrônomo.

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