O brasileiro está bastante ciente de que o Brasil é gigante na produção de soja, milho e carnes, mas pode não ter muita noção da importância que o país tem em outros produtos da agropecuária, como a produção de laranjas, por exemplo, com cujo produto o país detêm com folga a liderança global na produção da fruta e do seu suco.
O suco de laranja é o mais consumido no mundo, participando com 35% do consumo global entre todos os sucos. O Brasil responde por 50% da produção mundial de suco de laranja, exportando 98% do que produz. Exporta quase tudo, não porque o brasileiro não goste de suco de laranja, mas porque o poder aquisitivo de grande parte da população o considera muito caro. Os Estados Unidos (EUA) são o país que mais consome a laranja na forma de suco.
A produção de laranjas tornou-se uma das mais importantes atividades agrícolas no Brasil. Em 2019, a área cultivada com laranja era de 592 mil hectares, 56 mil hectares com limão e 52 mil hectares com tangerina. O Brasil exporta suco de laranja para quase todos os países do mundo e tem potencial de incrementar as exportações caso haja demanda adicional.
A China é, aparentemente, o centro de origem da fruta. Foi na literatura chinesa, há cerca de 2000 a.C., que apareceu pela primeira vez uma descrição sobre as frutas cítricas. A laranja não era doce como a conhecemos hoje, a qual teria surgido a partir de um cruzamento entre duas espécies ancestrais: a toranja e a tangerina. Esse cruzamento ocorreu naturalmente, sem a interferência humana. É resultado de um híbrido natural, confirmado somente com o advento da moderna engenharia genética.
Da China, a laranja teria sido levada para o norte da África e, desde lá, introduzida na Europa pelo sul do continente, em meados do século XVI. No Brasil, a citricultura chegou via São Paulo, trazida pelos portugueses a partir de mudas provenientes da Espanha. O interesse dos portugueses pela laranja deveu-se à constatação de que ela seria uma importante fonte de vitamina C, nutriente utilizado na luta contra o escorbuto, doença causada pela falta de Vitamina C, e cuja deficiência estava devastando as tripulações dos navios durante as grandes navegações.
Mas não é apenas a laranja que fornece Vitamina C para as necessidades humanas. Acerola, kiwi, lichia e goiaba também são ricas nessa fonte de vitamina. A acerola, inclusive, contém 23 vezes mais Vitamina C do que a laranja.
A laranja é uma fruta cultivada em todos os estados brasileiros, o que faz do país, além de maior produtor mundial da fruta, o maior exportador do seu suco, o mais consumido no mundo. O Brasil responde por ¾ das exportações globais desse suco. Depois do Brasil, as maiores produções de laranja são encontradas na China, Estados Unidos e Índia.
No Brasil, o estado de São Paulo ocupa a liderança folgada no ranking da produção, com 77% da produção nacional, seguido por Minas Gerais (6%), Paraná (5%) Bahia (4%) e Rio Grande do Sul (2%). Na safra 2019/2020, o Brasil produziu cerca de 15 milhões de toneladas da fruta, quase tudo transformado em suco para exportação.
Mas nem sempre foi alegria com a cultura de laranjeiras. Entre as décadas de 1930 a 1950, uma doença (vírus) conhecida como Tristeza dos Citros, dizimou mais de 20 milhões de plantas, cujo rápido declínio tornava a planta improdutiva. A tristeza é uma doença de interação entre a copa e o porta-enxerto. Um dos métodos de controle foi a substituição do porta-enxerto de Laranjeira Azeda por outros tolerantes, como o limão Cravo. Entretanto, algumas laranjeiras-doces, como a Pera, podem ser afetadas por isolados agressivos do vírus, mesmo quando estabelecidas em porta-enxertos tolerantes. Nesse caso, outra medida de controle adotada é a premunização, que consiste na seleção de variantes fracos do vírus que, quando inoculados nas plantas, são capazes de impedir a posterior colonização das variantes severas.
A partir de 2004, foi identificada no Brasil uma nova doença denominada greening ou Huanglongbing (HLB), muito temida entre os produtores de laranja por não possuir qualquer tipo de cura ou tratamento, e se propagar com uma velocidade muito alta. Cerca de 50 milhões de árvores (26% do parque citrícola do estado de São Paulo) foram sacrificadas no EstadoP pelo ataque dessa doença. Nos Estados Unidos, até uso de antibióticos está sendo testado. No Brasil, isso não é permitido, mas recomenda-se a utilização de mudas sadias, controle do inseto vetor da doença (Diaphorina citri) e erradicação das plantas com sintomas da doença.
O desenvolvimento de plantas cítricas transgênicas com resistência ao greening representa uma estratégia promissora e ambientalmente mais sustentável para combater a doença. Os cientistas estão trabalhando para lograr esta conquista.