CI

Plantas x serpentes


Decio Luiz Gazzoni
            As vicissitudes do agricultor incluem a exposição a animais peçonhentos - cobras, aranhas ou escorpiões. A cada ano, 30.000 pessoas são picadas por cobra no Brasil, a maioria na zona rural. Existem diversas cobras peçonhentas, como as cascavéis e corais, mas as jararacas (do gênero
Bothrops) causam mais acidentes no Brasil.
A ação do veneno das cobras pode ser: 1. proteolítica, digerindo as proteínas; 2. neurotóxica, bloqueando a transmissão dos sinais nervosos; 3. provocando coágulos ou hemorragias. O veneno das jararacas é proteolítico, inchando e necrosando os tecidos próximos à picada. Em caso de acidente ofídico, largue tudo e corra para o hospital mais próximo! O tratamento é com soro antiofídico, o qual minimiza os distúrbios de coagulação do sangue, a insuficiência renal, inclusive evitando o óbito. Porém, no caso das jararacas, o soro não atua sobre as lesões nos tecidos próximos à picada, como feridas e necroses que, por vezes, exige a amputação do membro.
A equipe liderada pelo Dr. Carlos Fernandes, da Unesp/Botucatu, pesquisou plantas medicinais usadas por comunidades tradicionais e indígenas, demonstrando que algumas são eficazes para tratar as lesões locais. Foram estudadas o boldo baiano, com alto teor de ácido cafeico; a erva baleeira, que contém ácido rosmarínico; e o papo de peru, que produz o ácido aristolóquico. Camundongos foram colocados em contato com veneno de jararaca e, posteriormente, recebiam cada um dos compostos extraídos das plantas. Resultado: o veneno da jararaca não danifica os músculos quando as substâncias extraídas dos vegetais são aplicadas. Resultado semelhante foi obtido pela Dra. Mônica Kadri, da UFMS, com a planta paratudo,  mostrando redução dos danos causados pelo veneno de serpentes, nos tecidos próximos à região da picada.

            Estes avanços são entusiasmantes, porém não custa sempre alertar: são estudos preliminares, de laboratório. Existe um procedimento científico e legal a ser cumprido até que os resultados sejam definitivamente comprovados, a segurança de seu uso seja demonstrada, e as substâncias sejam liberadas para comercialização e para indicações médicas , complementando a ação dos soros antiofídicos.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.