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Pinhão manso


Decio Luiz Gazzoni
Há uns 10 anos ouço com alguma frequência: “Doutor, o que o senhor acha do plantio de pinhão-manso?”. Pacientemente, explico que a planta não está domesticada, portanto sem condições de cultivo comercial extensivo. Seu uso restringe-se a cercas-vivas em propriedade rurais, e para produzir óleo usado em lampiões e similares. Uma consulta à base de dados da FAO demonstra não existir um hectare de plantio comercial de pinhão-manso efetivamente estabelecido no mundo, apesar de todos os incentivos que esta planta recebeu de governos e outras organizações.

Para sair desse estágio rudimentar e enfrentar a disputa acirrada do mercado, há um longo caminho a ser trilhado, até que a planta seja domesticada, com a incorporação de características que permitam ser cultivada em condições de competitividade. A primeira imposição é produzir variedades diferenciadas, atualmente inexistentes. Falo variedades, no plural, porque qualquer cidadão minimamente informado sabe que um investimento agrícola, que demande milhares, quiçá milhões de hectares, necessita de uma base genética ampla, para reduzir o risco de frustrações.
Resolvidos os problemas genéticos, - baixa produtividade, desuniformidade na maturação, toxidez e alergogenicidade, entre inúmeros outros - iniciará uma nova etapa para desenvolvimento do sistema de produção, como arranjos de plantas, nutrição vegetal, irrigação ou controle de pragas. Isto posto, há necessidade de organizar setores complexos, como logística, infraestrutura e outras demandas da cadeia produtiva. Tudo resolvido, alguém precisa comprar e processar o produto, colocando-o junto a outras empresas que os utilizem, o que também não é tarefa simples. Lembremo-nos que existe um mercado, com demandas associadas de óleo e proteína, amplamente dominado por oleaginosas como soja, girassol ou canola, que são cultivos tradicionais, solidamente estabelecidos.

Mais recentemente, quando a pergunta me é feita, acrescento à resposta: “Se, após ouvir o que falei você decidir plantar pinhão-manso, faça-o com seus próprios recursos, não ponha em risco o sagrado dinheiro dos impostos dos brasileiros, ou o investimento de terceiros de boa fé.”
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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