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Perdemos um pioneiro


Decio Luiz Gazzoni
            Em 1974, recém egresso do curso de pós graduação, cheguei entusiasmado ao Paraná, para iniciar meu labor na Embrapa. À época, o Brasil experimentava o início do ciclo da soja, cuja demanda crescia no mundo, apesar da pouca oferta. Por falta de tecnologia nacional, os primórdios da cultura no Brasil foram muito difíceis, os agricultores enfrentando sérios problemas. Em minha avaliação, o principal deles era o manejo de solos: a erosão ameaçava aniquilar, precocemente, o que viria a ser o grão de ouro do Brasil.

            À época, tive o prazer de conhecer Herbert Arnold Bartz, agricultor de Rolândia, em cuja propriedade instalei diversos experimentos. Inconformado com a erosão que dilapidava os solos do Norte do Paraná, Bartz havia importado máquinas e começava a usar o sistema de plantio direto(SPD), de forma pioneira. Logo surgiram outros adeptos e, em pouco tempo o plantio direto era utilizado nos Campos Gerais do Paraná, onde Franke Dijkstra e Nonô Pereira se destacaram como os principais incentivadores da tecnologia. Esses três agricultores pioneiros são os nomes que mais se destacam na saga do SPD.
            Graças a esse pioneirismo, a Embrapa, o IAPAR, cooperativas, empresas multinacionais e, especialmente, diversos profissionais e agricultores idealistas, visionários e preocupados com o ambiente e com a sustentabilidade da cultura da soja, desenvolveram e difundiram a solução que viabilizou a soja no Brasil: o plantio direto.

            Ontem, Nonô Pereira nos deixou, chamado por Deus para cultivar os campos dos céus com o mesmo amor, carinho e dedicação que fez com os campos de Palmeira, onde cultivava soja. Nonô é reconhecido como o maior difusor da tecnologia do plantio direto na palha, no Brasil e no exterior, função que exercia com a devoção de um sacerdote. Visionário, nos idos de 1974 fundou o Clube da Minhoca de Ponta Grossa, embrião da Federação Brasileira de Plantio Direto, da qual foi três vezes presidente. Se hoje temos mais de 32 milhões de hectares no Brasil, muito se deve a Nonô.
            Requiescat in pace, Nonô. Conosco fica a saudade e o reconhecimento de um grande brasileiro, de quem os brasileiros que se beneficiam do agronegócio sempre serão devedores.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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