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Os sinais do fim dos tempos


Decio Luiz Gazzoni
A polêmica sobre o fim do petróleo se resume em saber se durará menos ou mais que 50 anos. Os sinais estão evidentes: preço em alta e disputa aberta pelas últimas reservas, cujo ícone é a invasão do Iraque. Como crises coadjuvantes as ameaças ao Irã, o chavismo na Venezuela e a manipulação do nacionalismo para aparelhar o projeto de poder do cocaleiro Evo Morales, na Bolivia. Emoldurando o cenário apocalíptico, a emissão de gases de efeito estufa com a queima de combustíveis fósseis prenuncia uma crônica catástrofe climática, para os próximos anos. Rumo ao fim Há 150 anos, havia 1,3 trilhões de barris de petróleo no subsolo do planeta. Durante o século XX consumimos 50% das reservas. Logo, os outros 50% também durariam 100 anos? Ledo engano. O consumo anual, entre o início e o fim do século XX, aumentou centenas de vezes. E continua crescendo neste século, a taxas superiores à incorporação de novas reservas. No segundo choque de petróleo (1980), a cotação atingiu US$90/barril, ao valor do dólar de hoje. Portanto, os US$66,00 atuais sinalizam para o terceiro choque. Devemos fechar 2005 acima dos US$70,00 e analistas trabalham com cotação acima de US$110,00 a partir de 2012. Estrategistas propugnam uma hipertaxação do petróleo (US$180/barril), para compatibilizar oferta e procura. Será o fim? Nova era A Ciência já nos livrou de catástrofes mais sérias, desde que antecipadas. Visualizemos que o sol é a fonte primária de quase toda a energia na Terra, exceção feita à energia nuclear e outras fontes menores. Petróleo, carvão e gás (80% da energia consumida no mundo) são restos orgânicos de priscas eras, fruto da fotossíntese, logo energia solar. O futuro que vislumbro contempla o aproveitamento direto ou indireto da energia solar, como células fotovoltaicas, aquecimento d'água ou energia eólica. Foi dada a largada e os cientistas dispõem de uns 50 anos para tornar essas fontes altamente eficientes, para que dominem a matriz energética da segunda metade desse século. Transição Todavia, é necessário chegar vivo e sem crises agudas, até a vigência do novo paradigma. Aí entra a agricultura de energia, atendendo à demanda de curto prazo. O álcool é a grande vedete da atualidade. O Brasil produzirá, em 2005, 16 bilhões de litros, próximo à capacidade instalada de 18 bilhões. Cerca de US$140 milhões estão sendo investidos, para aumentar a capacidade para 25 bilhões até 2010. Em 10 anos, deveremos ultrapassar 30 bilhões de litros que, emblematicamente, correspondem ao consumo anual de gasolina no Brasil. Destes, 15 bilhões serão exportados. Competitividade Com a atual estrutura tributária o álcool equivale a US$35/barril, com o ICMS a 12%, como em São Paulo (nos EUA, o custo de produção, sem impostos, é de US$50/barril). Nosso custo de produção é fortemente competitivo, apenas a voracidade tributária dos governos pode atrapalhar. E tudo poderá ser ainda melhor, com a tecnologia em desenvolvimento pela Unicamp, que triplica a produtividade e reduz o custo de processamento. O segredo do processo é a extração do álcool à vácuo, antes de atingir 9% no caldo em fermentação. Acima dessa concentração ocorre a morte dos fermentos, reduzindo a produtividade. Com o método, é possível trabalhar com concentração de açúcar superior a 50%, muito acima dos 12% atuais. Biodiesel Os biocombustíveis derivados de óleo vegetal tornam-se competitivos com o petróleo a US$60/barril, computada a estrutura tributária, sendo o custo de produção estimado em US$40/barril, pelo MME. Dependendo do interesse do Governo em, efetivamente, alavancar um programa consistente de bioenergia, instrumentos como política fiscal, política tributária, política agrícola e agrária e política de abastecimento devem ser acionadas, para conferir competitividade ao setor. Lembrando sempre que, além de solver um dilema energético, a produção de bioenergia implica em ganhos ambientais e sociais, em especial a geração de empregos e o aumento e melhor distribuição da renda. O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. Homepage: www.gazzoni.pop.com.br

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