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Os limites do biodíesel


Decio Luiz Gazzoni
Eu decreto:na década de 20 o uso relativo de biodíesel produzido a partir de óleos vegetais vai decrescer paulatinamente. Quer dizer que vamos voltar a consumir óleo diesel adoidado? Que vamos acelerar a exaustão das reservas de petróleo e emporcalhar a atmosfera ainda mais? Calma lá, gente. Eu não disse nada disto. Ao contrário, acho que os combustíveis fósseis, especialmente o petróleo perderão market share a partir da década de 20. O problema é do biodiesel produzido de óleos vegetais (ou gorduras animais), mas não só dele. Será também do etanol produzido de cereais, seja milho, trigo ou cevada, pois em ambos os casos a matéria prima (oleaginosas ou cereais) ficará progressivamente muito cara, impedindo a expansão do Negócio em todo o seu potencial.

E por que isto vai acontecer? No caso do etanol de cereais pela competição direta com alimentos e pela ineficiência econômica e energética de produzir etanol a partir destas matérias primas, que só se sustentam pelos subsídios e pela falta de conhecimento da opinião pública. Para o biodíesel, a análise é parecida.
Em parte temos uma competição direta com alimentos (soja, canola, girassol). Esta questão poderia ser contornada produzindo óleo de espécies não alimentares, como pinhão manso ou macaúba, porém a disputa por solo cultivado continuaria.
De outro lado, temos uma densidade energética muito baixa, pois estas matérias primas podem produzir entre 600 e 1500 kg de óleo por ha, ou seja, entre 6 e 15 Mcal/ha, competindo com etanol que pode chegar a 120 Mcal/ha. O problema poderia ser parcialmente contornado com o uso de palmáceas tropicais, cujo paradigma é o dendê. Esta planta produz, hoje, 5 t/ha de óleo, com potencial para o dobro deste valor, quando pode atingir mais de 100 Mcal/ha.
Neste caso, a densidade energética é alta o suficiente para justificar o seu uso.
Entretanto, ainda resta a questão de onde plantar. O sudeste asiático (Malásia, Tailândia e Indonésia) está investindo fortemente na expansão do plantio de dendê. Porém, o seu limite físico de expansão será atingido até a década de 20. Sobrará a grande fronteira da Amazônia brasileira, onde cerca de 30milhões de ha já desmatados poderiam ser utilizados (mesmo que parcialmente) para o plantio de dendê, em sistema agro florestais. Aí vai depender do apetite empresarial, de o Governo brasileiro sair de sua inação e de as ONGs preferirem que as áreas de desmatadas sejam replantadas, para evitar que mais área de floresta seja desmatada, a manter o modelo de agricultura ‘itinerante atual.
Só plantar não vai resolver, porque o preço do óleo vegetal, que é a matéria prima do biodíesel anda pela hora da morte. E a culpa é só parcialmente do biodíesel. A maior “culpada” é a inclusão social, promovida pelo grande aumento de renda per capita de populações miseráveis, como no Sudeste Asiático e na África, que, com o espetacular crescimento econômico do mundo e a baixa inflação, podem comprar mais alimentos – inclusive mais óleos e gorduras.

Mas, se o mundo exige cada vez mais energia, se a tendência mundial de substituição de fontes fósseis por renováveis é um fato inexorável, o que vem depois do biodíesel? Vislumbro duas quebras de paradigma tecnológico. A primeira delas tem a ver com o dueto matéria prima e processos de transformação. Já a partir da próxima década, porém com maior intensidade na década de 20, a Indústria vai mudar para matérias primas genéricas, tipo biomassa residual, cascas, grãos, lascas ou serragem de madeira, ou mesmo toras de madeira imprestáveis para outros usos, associada com processos de pirólise ou gaseificação, para produzir bio-óleo ou gás de síntese. O bio-óleo já é um sucedâneo do diesel. Com o gás de síntese, os químicos vão sintetizar novos biocombustíveis, adaptados para operar em motores de ciclo diesel, em regime de trabalho pesado.
A outra quebra de paradigma exige mudanças nos motores, de maneira a permitir o uso de bioetanol, substituindo parcialmente o petrodiesel. Nem são mudanças profundas, são inovações tecnológicas que rompem com a forma como se havia tentado usar etanol em motores diesel até hoje, e que nunca “pegaram” por ineficiência ou alto custo. A Embrapa detém uma patente nesta área que, tenho certeza, vai revolucionar o setor em escala mundial, criando algo parecido com um motor flex fuel a diesel. Só não será flex fuel completo, porque sempre será necessária determinada proporção de diesel ou biodíesel (talvez até uns 40%). Mas, os testes preliminares mostraram economicidade e desempenho elevados, por vezes superando a operação com diesel puro. É o futuro chegando, quando ultrapassarmos os limites do biodíesel.

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