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Os “benefícios” da globalização


Amélio Dall’Agnol
Não está para amadores o jogo bruto do intercâmbio comercial mundial. O mais delicado dos competidores chuta a canela do concorrente e finge que foi acidente. O Brasil, enquanto desempenhava um papel secundário no comércio agrícola mundial não sentia a maldade que vinga entre os jogadores desse time. Agora, finalmente convertido em importante player no comércio de alimentos e minérios, sofre as conseqüências do seu novo status.

Para ganhar mercados, qualquer coisa serve, até a calúnia e a difamação, como bem ilustra o episódio Brasil/Canadá com o Mal da Vaca Louca, ocorrido na década passada. O Canadá, certamente incomodado com a perda de mercado de carnes e de aviões para o Brasil, falsamente nos acusou de sermos um potencial foco da doença, que, qual castigo divino, acabou aparecendo por lá.
O livre comércio é o melhor atalho para a prosperidade global, dizia Alan Greenspan, ex-Presidente do Banco Central Americano. O que ele não disse, é que o livre comércio é efetivo no discurso dos políticos globais, mas na prática, meu irmão, o que vale mesmo é a lei do mais forte. “Nas relações comerciais entre os povos não há lugar para amigos nem para inimigos; só para negócios” afirmava John Foster Dulles, conterrâneo de Greenspan, deixando clara a estratégia de negociação dos norte-americanos.
Se bem é verdade que a globalização do comércio internacional é um processo irreversível pelos inquestionáveis benefícios que trouxe e traz à humanidade - inclusive para as nações em desenvolvimento, como o Brasil - o que se questiona aqui não é o mecanismo, mas a desigual distribuição dos seus benefícios entre pobres e ricos, sejam eles nações ou indivíduos.
São esses resultados que geram indignação e justos protestos mundo afora. Com a abertura dos mercados, as nações mais ricas passaram a vender mais às nações pobres e delas comprando menos, como resultado da sua maior agressividade comercial, e, também, como consequência dos subsídios e do protecionismo que praticam em favor dos seus produtos, o que contribui para manter a desigualdade entre os povos.

Precisamos reagir contra a prepotência dos países industrializados no estabelecimento das regras do comércio mundial, que, ato contínuo, eles próprios não as cumprem, valendo-se de ridículas barreiras não tarifárias para fugir do cumprimento das regras estabelecidas, numa típica atitude do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
 A ganância do capitalismo selvagem dos países ricos, cuja prosperidade e desenvolvimento foram, em boa medida, construídos às custas do subdesenvolvimento do Terceiro Mundo, precisa ser freada, para o que nossas autoridades deveriam assumir atitudes mais enérgicas contra as falácias do comércio multilateral.
Com a palavra o novo Diretor da Organização Mundial do Comércio, o brasileiro Roberto Azevedo, que, esperamos, leve para dentro da OMC, não apenas a visão do Brasil, mas da maioria dos países que sofrem com a falta de equanimidade no mercado internacional.

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