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O risco das cotas nas universidades públicas


Amélio Dall’Agnol
Nada contra cotas para favorecer negros, pardos ou índios nas universidades públicas brasileiras, mas, desde que sejam pobres. A pobreza discrimina mais do que a cor da pele e força o estudante pobre a frequentar a escola pública, que, via-de-regra, é de má qualidade, o que contribui para reduzir a sua chance de competir no vestibular de acesso à universidade gratuita. Apenas isto justificaria o privilégio da cota, porque pobreza não tem cor. Também tem pobres, que são brancos.

A propósito, o que dizer àqueles pais brancos, que, cientes da má qualidade da escola pública pré-universidade, fazem das tripas o coração para bancar o estudo do filho na escola privada e depois o vê preterido apesar de melhor classificado no vestibular, porque é branco e oriundo de escola privada? E pior, o que dizer se este estudante branco for desclassificado para dar lugar a um estudante negro, pardo ou índio, mas de família abastada e, também, aluno de escola privada? É racional e justo privilegiar os pobres, mas sem distinção de raça.
Na verdade, o que mais contribui para o sucesso de um estudante ingressar na universidade pública gratuita, não são as benesses que o poder pode oferecer, mas a dedicação e o esforço do candidato. O resto ajuda, mas não é determinante.
O que o Brasil precisa e tem pressa, é de escolas públicas de qualidade, para que o cidadão comum não se veja forçado a consumir suas economias para bancar a escola privada dos filhos, a fim de melhor qualificá-los para a universidade. No dia em que tivermos escolas públicas de qualidade, os filhos dos políticos, também, estudarão nas escolas públicas, como acontece em todos os países desenvolvidos do mundo. A propósito, onde estudam as filhas do Obama?
Quando assistimos o Congresso brasileiro discutindo a irreal possibilidade de alocar-se 10% do Orçamento da União para a educação, perguntamos: se a preocupação reside na falta de recursos, porque, ao invés de gastar fortunas na construção e manutenção de novos estabelecimentos de ensino público que não funcionam, não se estimula o estabelecimento de mais escolas privadas qualificadas e com acesso gratuito para os estudantes pobres, subsidiados pelo Governo Federal? Certamente o caixa da União seria beneficiado e os estudantes, mais bem preparados.
Ainda, pensando em diminuir gastos públicos, porque não cobrar o ensino universitário público aos estudantes ricos, considerando o custo exorbitante que o Governo tem para mantê-los nesses estabelecimentos? Ou, então, porque não se banca a universidade particular ao estudante pobre, ao invés de construir novas e caríssimas universidades públicas?
O ensino público/privado no Brasil é um paradoxo: o estudante rico frequenta escolas privadas no ensino médio e desfruta gratuitamente da universidade pública, enquanto com o estudante pobre acontece o contrário: freqüenta a escola pública gratuita, mas paga a universidade privada.
O Programa de Cotas parece justo, mas pode representar um retrocesso para o Brasil, visto que, pela menor qualificação dos universitários cotistas, as universidades públicas poderão ver-se forçadas a baixar o nível do ensino, a fim de que os cotistas possam acompanhar os ensinamentos, ao tempo em que os alunos mais bem preparados serão desestimulados, pela queda na qualidade do ensino.
Se esta suposição se concretizar, veremos as universidades públicas - hoje tidas como as melhores - serem lentamente preteridas pelos futuros universitários mais bem preparados, em favor das privadas, que, como consequência, devem melhorar em qualidade, igual aconteceu com as escolas do ensino médio e fundamental.
Já vi este filme antes. Nos anos 70, fui contemplado com uma bolsa para estudar na Universidade da Flórida, Estados Unidos. As exigências para o ingresso naquela universidade haviam sido muito facilitadas, presumivelmente com o propósito de atrair mais estudantes estrangeiros e, assim, reforçar o caixa da instituição. Quando concluí o treinamento em 1979, a universidade havia retornado às exigências anteriores, porque concluíra que sua excelência em ensino havia sido prejudicada por causa da menor qualificação dos estudantes estrangeiros.
Qualquer semelhança com o que poderia acontecer no Brasil, é mera coincidência.

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