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O porquê da queda de flores em soja


Amélio Dall’Agnol
Muitos produtores de soja se inquietam quando veem flores caídas sobre o solo, acreditando estar acontecendo algum problema, porque acreditam que se nada as afetasse, todas as flores poderiam converter-se em vagens. Não é assim que a natureza funciona. Botões florais, flores e vagens abortam naturalmente, mesmo quando essas estruturas não são afetadas por danos causados pelo ataque de insetos, doenças ou estresse climático. Em soja, dependendo da época de plantio e da variedade, a queda pode chegar a 90%. 
Isto eu mesmo pude comprovar na pesquisa que realizei para a tese de Doutorado na Universidade da Flórida (EUA), quando realizei um estudo sobre o padrão de florescimento e da frutificação de cinco variedades de soja semeadas em duas épocas: 9 de Junho (corresponde a Dezembro no Brasil) e em 19 de Julho (Janeiro no Brasil). Esse estudo indicou que o número de flores produzidas cai e o percentual de flores convertidas em vagens aumenta da primeira para a segunda semeadura, esta realizada muito além da época mais recomendada.
Na primeira data de semeadura, produziram-se 340 flores por planta na média e o índice de pegamento foi de 16%, variando desde 10% até 20% entre as cinco variedades. Já na segunda data de semeadura, o número de flores caiu para 87/planta, na média, com índice de pegamento de 32%. Embora o índice de sucesso da segunda semeadura tenha sido 100% maior, o número de vagens e a produtividade da primeira semeadura foi maior também, pois 16% de 340 é mais do que 32% de 87. O período de florescimento também foi reduzido de 32 dias para 23 dias.
Se esse estudo fosse realizado no Brasil e comparássemos uma mesma variedade semeada em novembro e dezembro, obteríamos resultados similares: mais flores e índice menor de pegamento na semeadura de novembro e menos flores e índice maior de pegamento na semeadura de dezembro.
As plantas, assim como os animais, descartam os filhotes que percebem não ter condições de criar. Uma planta de soja é capaz de avaliar em tempo real a quantidade de grãos que é capaz de alimentar, frente às condições ambientais vigentes. Se as condições ambientais mudam, ela reavalia sua nova realidade e pode descartar mais estruturas reprodutivas.
Não é só com a soja que ocorre esse abortamento natural de flores e vagens. É normal isso acontecer com todas as plantas. É um mecanismo de sobrevivência e defesa contra as contrariedades do ambiente. Elas produzem mais estruturas reprodutivas do que o necessário, descartando o excesso em maiores ou menores quantidades, a depender das condições ambientais mais ou menos favoráveis. Se nós retirássemos todas as flores da primeira florada de uma planta, possivelmente não haveria redução alguma na produtividade, porque o instinto de sobrevivência da planta converteria muito mais flores em frutos das floradas seguintes.

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