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O perigo amazônico


Decio Luiz Gazzoni
 
Responda bem rápido: A Amazônia é importante para absorver gás carbônico e ajudar a combater o aquecimento global? O que parecia um dogma está sendo questionado. Um estudo publicado na revista Nature de 18/1/2012 (The Amazon basin in transition) deixa sérias dúvidas se a Amazônia atua como sequestradora e fixadora de carbono. Isto porque os autores concluem que o desmatamento e o aquecimento global estão gradualmente levando a região a se tornar uma fonte emissora de gases de efeito estufa.

Os autores fazem uma concessão, especulando que a mudança talvez seja de um sorvedouro de carbono forte para um sorvedouro fraco. As dúvidas ocorrem porque o alcance do estudo não permitiu estimar o fluxo líquido de carbono para toda a bacia Amazônica, posto que os dados foram obtidos em apenas 13 torres de estudos da atmosfera, distribuídas pela Amazônia.
A publicação é uma revisão de 20 anos de pesquisas do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), o maior projeto de pesquisa em ecologia e geociências da região. Embora ainda restem dúvidas, é possível afirmar que, em um período de forte estresse climático (tipo as grandes secas de 2005 e 2010), a floresta se torna uma pequena fonte emissora de carbono.
Qual a importância desta discussão? A Amazônia imobilizou, na biomassa florestal, o carbono equivalente a quase dez anos da queima mundial de combustíveis fósseis, a maior fonte individual de emissão de gases. Qualquer alteração nesse regime representa, para as mudanças climáticas, o mesmo que um elefante abanando rabo e tromba em uma loja de cristais!

Assim, apesar de a Amazônia ser robusta para suportar estresses do tipo secas, desmatamento e queimadas, entre outros, a floresta pode não suportar todos ao mesmo tempo. São estas perturbações mais recentes que provocam a insegurança nas conclusões dos cientistas. Qualquer perturbação do sistema amazônico significaria um desastre de proporções gigantescas, com reflexos sobre o clima, que afetariam não apenas o Brasil, mas o mundo. Portanto, todo o cuidado com ela será pouco, porque as consequências do descuido são muito sérias.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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