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O mercado de trabalho no agronegócio



Decio Luiz Gazzoni

                Os números do agronegócio brasileiro têm sido expressivos, seja em volume e valor da produção ou no superávit das exportações. Mas existe um índice econômico de enorme impacto social, representado pelo mercado de trabalho do agronegócio.

                O agronegócio atravessou galhardamente todos os transtornos pelos quais passou a economia brasileira, ao longo dos últimos dez anos, período em que o PIB do Brasil cresceu, em média, apenas 0,4% por ano, enquanto o mundo cresceu 3% e os BRICS 3,4% ao ano (bit.ly/47egNW1). Em 2012 o Brasil produziu 166 Mt de grãos (bit.ly/3tVTnqd), volume que se elevou a 322 Mt em 2022 (bit.ly/3QDrfRB), um incremento de 94%. Não fora esse espetacular crescimento do agronegócio, provavelmente o Brasil teria amargado índices negativos no período, pelo seu efeito irradiador na economia.

 

Trabalho

                Em uma quadra em que a taxa de desemprego da economia superou 10%, o crescimento da produção agrícola não foi suficiente para aumentar a oferta de empregos no setor. O Centro de Estudos do Agronegócio da FGV analisou o mercado de trabalho no agronegócio entre 2016 e 2023 (bit.ly/47gfwOu). De acordo com o estudo, em 2016 havia 14,34 milhões de pessoas ocupadas no setor e, em 2023, são 13,78 milhões, uma redução de 3,9%.

               Dentro da porteira, a agropecuária perdeu 889,2 mil postos (-9,6%), redução de 583 mil na agricultura (-9,7%,) e de 306 mil na pecuária (-9,5%). Na agroindústria houve geração de 331 mil vagas (6,5%), com aumento de 18,2% na área de alimentos e bebidas e de 1,1% no setor de produtos não alimentícios. Ao final, o agronegócio perdeu 558 mil postos de trabalho.

               Aparentemente, ocorreu uma contradição entre a expansão do agronegócio sem correspondente acréscimo na mão-de-obra ocupada. O estudo da FGV explica as razões desses movimentos antípodas. O primeiro fato é muito auspicioso: houve melhoria da qualidade dos postos de trabalho dentro da porteira, vez que a redução ocorrida no período concentrou-se nos postos informais de trabalho, com diminuição de 10,3% –redução de 924,3 mil postos.

               O segundo fato também é auspicioso: expansão de 6,8% nos empregos formais diretamente na agropecuária, o que corresponde a 366,3 mil novos postos de trabalho, sob a égide da legislação trabalhista. A tendência deve prosseguir no futuro pois, no segundo trimestre de 2023, foi registrado o maior número de vagas formais (5,7 milhões) e a maior taxa de formalidade (41,5%), desde o início do estudo (2016).

               O mesmo fenômeno ocorreu na agroindústria. Apesar de as vagas informais crescerem em uma maior proporção do que as formais (8,6% x 5,5%), considerando a existência anterior de maior número de vagas formais, o seu aumento foi maior (190,3 mil) do que os postos informais (140,9 mil).

                Congruentemente, a remuneração média dos postos de trabalho no agronegócio aumentou, inclusive acima dos valores da economia brasileira. Entre 2016 e 2023, a remuneração média dos trabalhadores do agro cresceu 12,6% (em valores deflacionados), incrementando de R$ 1.793,69 para R$ 2.018,99. Para efeito de comparação, no mesmo período, a remuneração média no Brasil cresceu 4,3% (R$ 2.719,44 x R$ 2.836,40).

 

Fundamentos

                Cada vez mais o agronegócio brasileiro incorpora a sustentabilidade (social, ambiental e econômica) como pilar fundamental de sua competitividade, visando a manutenção e ampliação de sua participação no mercado agrícola internacional, com adoção de conceitos como o ESG. Com isso, verifica-se que a produção agrícola brasileira – lastreada em tecnologias sustentáveis – reduz, progressivamente, seu impacto ambiental. E a preocupação social passa a integrar a cultura do agronegócio, com melhoria na educação, qualificação e produtividade dos colaboradores, ao tempo em que os avanços da agricultura 4.0 – como automação, digitalização e robotização – melhoram o ambiente de trabalho e a remuneração no setor.

 

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa, membro da Academia Brasileira de Ciências Agrárias e do Conselho Científico Agro Sustentável.

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